A Pauta de Reivindicações para o Acordo
Coletivo de Trabalho (ACT) de 2022/24 foi
aprovada por unanimidade, na terça-feira
(7), em
Congresso Nacional
promovido pelas
Associações de Funcionários do Sistema
BNDES, com o apoio do Sindicato dos
Bancários do Rio (Seeb-Rio) e da
Confederação Nacional dos Trabalhadores do
Ramo Financeiro (Contraf-CUT). O documento,
que não sofreu alterações em relação à
minuta apreciada, agora passa por revisão
para ser encaminhado à direção do Banco.
No evento, realizado virtualmente pela
plataforma Zoom, também foi aprovada a
comissão que negociará o ACT com a
administração do BNDES. O colegiado será
formado por representantes da AFBNDES
(Arthur Koblitz e Pauliane Oliveira –
titulares – e Juliana Romeiro e Fernando
Newlands – suplentes), da AFFINAME (Jorge
Henrique Velloso), da AFBNDESPAR (Cláudio
Abreu), do Seeb-Rio e da Contraf-CUT.
Pauliane e Juliana,
além de diretoras da AFBNDES, são também
representantes sindicais de base,
eleitos em fevereiro último
pelos colegas benedenses. Não houve, no
Congresso, candidaturas de base para
integrar a comissão de negociação dos
empregados.
O Congresso foi conduzido pela
vice-presidente da AFBNDES, Pauliane
Oliveira, que saudou os colegas que foram
convidados para participar da abertura do
encontro.
Primeiro a falar, o presidente da AFBNDES,
Arthur Koblitz, chamou atenção para a
experiência acumulada nos últimos anos pelos
representantes do corpo funcional e para as
dificuldades do processo de negociação de
2022: “Todos nós nos tornamos muito mais
experientes em negociar, em nos organizar, e
vamos precisar usar bastante essas
habilidades este ano. Isto porque esperamos
uma negociação bem difícil. O governo está
acabando, mas a gente não espera que eles
vão agir de forma menos agressiva. Eles
devem vir com uma pauta bastante ousada e a
gente tem que estar preparado para
intensificar nossa mobilização, em lives,
assembleias presenciais e mesmo em eventuais
paralisações. Acho também que temos que ter
uma linha de pressão sobre os colegas que
irão representar a diretoria do Banco na
negociação. Esses colegas podem suavizar o
tamanho do problema que vem para cima da
gente”.
A negociação de 2022 vai ocorrer no meio de
uma campanha eleitoral acirrada e Arthur
destaca a necessidade de separarmos bem os
dois processos. “Na eleição cada um vai
escolher de acordo com as suas convicções,
mas aqui a gente quer a unidade dos
empregados em torno de seus direitos e da
defesa do BNDES. A gente vem praticando isto
há anos de maneira adequada, sem confundir
essas questões. E esta postura nunca impediu
a busca de apoios no Congresso, junto a
parlamentares, sempre que a gente precisou”,
lembrou o presidente da AFBNDES.
Para Arthur, o corpo funcional benedense
precisa ser realista: “A gente vai tentar
avançar e conquistar direitos. Queremos
aperfeiçoar algumas normas que foram
aprovadas nos últimos anos de forma
apressada. Mas a gente tem que ter claro que
nossa principal tarefa é evitar novas
perdas. E nesse sentido nossa fundamental
preocupação é com o plano de saúde. A gente
entende que as questões relacionadas à saúde
merecem um acordo coletivo próprio, fora
desse acordo mais amplo que estaremos
negociando agora. Tal posição já havia sido
sinalizada no passado, durante a gestão de
Joaquim Levy no BNDES. Havia a proposta de
um acordo específico sobre esse tema e nós
continuamos defendendo este caminho”,
ressaltou.
Arthur também destacou o esforço para
antecipar a negociação: “Quanto mais cedo
nós estivermos preparados para negociar,
mais fortes estaremos para cobrar do Banco a
antecipação desta agenda. A gente não tem
como controlar isso. No ano passado, por
exemplo, fizemos um esforço danado para
antecipar as discussões, mas só fomos
começar a poucos dias da data-base. Mas é
uma pressão que precisamos fazer”.
Sobre esta
antecipação, a vice-presidente da AFBNDES,
Pauliane Oliveira, destacou o apoio
que está sendo dado pela Contraf e pelo
Sindicato dos Bancários do Rio. “A gente
tentará terminar a campanha junto com os
demais
bancos públicos.
Congressos dos
empregados desses bancos estão ocorrendo e a
partir de sexta-feira teremos a
Conferência Nacional dos Bancários,
em São Paulo, quando será definida a minuta
nacional de reivindicações. A ideia é que no
dia 15 de junho sejam entregues às direções
dos bancos as pautas específicas e à Fenaban
a minuta mínima da categoria.
Em fala rápida, o presidente da AFFINAME,
Jorge Henrique Velloso, destacou a
necessidade de forte mobilização dos
empregados do Banco para enfrentar o
processo negocial. “Precisamos demonstrar
nossa força na defesa de um bom Acordo
Coletivo. A gente sabe das dificuldades que
enfrentaremos e só a nossa mobilização vai
trazer um bom resultado para todos. Se a
gente conseguir acompanhar os bancários na
questão do tempo de negociação, o que seria
uma novidade, será muito bom para o nosso
movimento. Vai ser um bom reforço para a
nossa luta”, disse.
O presidente da AFBNDESPAR, Cláudio Abreu,
tem esperança de uma negociação melhor este
ano: “Vamos fazer um bom Acordo Coletivo”,
afirmou. Em relação à coincidência com o
período de campanha eleitoral, Cláudio disse
concordar com o posicionamento de Arthur: “A
gente tem que separar as coisas. Nosso
objetivo é defender os direitos dos
funcionários do BNDES. Pretendo ficar mais
como observador na negociação, contribuindo
com minha experiência de outros carnavais”,
finalizou.
Também presente no Congresso, o
presidente do Sindicato dos Bancários do
Rio, José Ferreira, disse estar
apostando na maior proximidade com o
movimento dos funcionários do BNDES. Para
ele, este ano teremos dois grandes desafios
pela frente: “Um é o de renovar nossos
acordos coletivos sem perda de direitos. O
governo Bolsonaro chega ao seu fim, mas
ainda com o propósito de atacar as empresas
e os bancos públicos. Em relação ao BNDES, a
coisa não é diferente, com a tentativa de
redução de seu papel institucional. E também
nos preocupa muito a questão do plano de
saúde. Na Caixa Econômica, acabamos de sair
de uma negociação em que o eixo central da
direção da empresa era reformar o plano de
saúde com a retirada de direitos. Nós
conseguimos resistir com muita luta e o
pessoal do BNDES precisa estar preparado
para este embate”.
Outro desafio, segundo Zé Ferreira, tem
relação com o processo político nacional.
“Os funcionários do Banco precisam se
debruçar sobre uma questão fundamental: que
BNDES queremos para o Brasil e para o seu
povo? É claro que isso passa pelo processo
eleitoral. Se a gente não fizer esse debate
amplo sobre o projeto nacional, alguém o
fará, provavelmente nos desagradando”,
afirmou.
Também tocando no tema da antecipação da
campanha salarial, o presidente do Sindicato
dos Bancários do Rio destacou posição
recente do Supremo Tribunal Federal (STF)
que selou o fim da
ultratividade.
“Os acordos específicos e nossa Convenção
Coletiva, que dita as regras gerais para o
conjunto dos trabalhadores do ramo
financeiro, vencem em 31 de agosto. Ou seja,
se a gente não renovar esses acordos até 1º
de setembro, nossa data-base, correremos
riscos na defesa dos nossos direitos. Daí a
importância da antecipação do processo
negocial”, ressaltou.
Por fim, Zé Ferreira
saudou a vice-presidente da AFBNDES,
Pauliane Oliveira, que participou da
Conferência Estadual dos
Bancários,
realizada em Campos, e estará presente, como
delegada, na
Conferência Nacional,
em São Paulo: “Vai ser muito importante ter
representante do BNDES na Conferência
Nacional. Assim estaremos reafirmando a
unidade de todos os empregados das empresas
do setor público e do setor privado do ramo
financeiro”.
O vice-presidente da Contraf-CUT, Vinícius de
Assumpção,
velho conhecido dos benedenses, participou
do Congresso representando a presidente da
entidade, Juvandia Moreira. “Esse Congresso
é histórico. Estamos concretizando um sonho.
Trazer o BNDES, banco tão importante no
sistema financeiro nacional, para dentro da
nossa estrutura é uma vitória. A gente só
cresce quando o BNDES se soma a esse
movimento nacional. Já estávamos próximos,
mas agora a gente consegue criar uma
aproximação ainda maior. A gente consegue
concretizar de verdade a unidade do BNDES
com a categoria bancária”, comemorou.
“E isto num momento crucial em que temos a
tarefa de debater com a sociedade um novo
projeto de Brasil; do país que nós queremos;
do BNDES que nós queremos; do banco que irá
fomentar o desenvolvimento e a geração de
emprego e renda no nosso país. E a tarefa de
combater um projeto que está em curso, que
destrói a soberania nacional, que leva o
povo a perder direitos, que leva o Brasil a
retornar ao mapa mundial da fome. Esse
debate a gente quer fazer. Não queremos
discutir campanha eleitoral, mas um projeto
de Brasil”, destacou Vinícius.
Para o vice-presidente da Contraf, a
negociação coletiva nos bancos públicos está
relacionada ao projeto que, para ele,
precisa ser combatido: “A forma como as
direções dessas instituições se posicionam
na mesa, a forma como tratam os
trabalhadores, tem a ver com uma decisão
governamental. Isso precisa estar bem claro.
A Confederação e o Sindicato não têm
candidato, têm compromisso com os
trabalhadores e com o desenvolvimento do
país”.
“Nossa segunda tarefa está centrada na
campanha salarial num cenário de alta
inflação, aumento da pobreza e do
desemprego. Os trabalhadores altamente
qualificados do BNDES, da Caixa e do Banco
do Brasil podem ajudar o país a sair desse
atoleiro, podem ajudar o país a gerar
empregos e riqueza”, destacou.
Segundo Vinícius, a proposta da Contraf é
entregar ofício à Fenaban para que ela
convide o BNDES a integrar a mesa única de
negociação, “uma vez que ele é o único banco
público que não está presente no fórum onde
se discutem as linhas gerais da campanha –
índice de reajuste, temas relacionados à
jornada de trabalho; onde se combate a
retirada de direitos da categoria. No mais,
a negociação específica, em cada banco, se
desenvolverá da mesma forma que em anos
anteriores”.
“A força da mobilização dos demais bancos
públicos ajudará a mesa específica do BNDES
a avançar. A gente não quer ver a repetição
do que ocorreu em 2020, quando o restante da
categoria fechou acordo e a gente ficou com
a negociação no BNDES arrastada, fora de
eixo”, complementou.
O advogado Cezar Britto, do
escritório que
nos assessorou na mediação do ACT
de 2020 junto
ao Tribunal Superior do Trabalho (TST),
também falou na abertura do Congresso. “A
gente fica bem feliz de saber que está
participando de um evento histórico. Esta
será a primeira negociação sem a
ultratividade, como bem foi lembrado. Não
sabemos como os tribunais vão se comportar a
partir de agora. Este ano, vamos negociar
com um governo que apaga a luz. Não sabemos
se acenderá mais uma vez ou não. Também há
um dado que nos favorece: é poder, ao
antecipar a campanha, observarmos o que
ocorre nas demais campanhas das estatais,
pois as direções dessas empresas executam
normas do mesmo governo. Estratégia quando é
traçada com antecedência é sempre melhor.
Também poderemos negociar juntos com os
empregados dos outros bancos. E essa é a
solução para enfrentarmos esses tempos
difíceis”, disse.
O advogado também destacou o trabalho
conjunto, a unidade jurídica, com os
advogados da Contraf-CUT na negociação
coletiva de 2020. “E já nos colocamos à
disposição das assessorias jurídicas da
Confederação e do Sindicato dos Bancários
para atuarmos da mesma forma este ano. O
tempo nos ensinou que o jurídico não é
protagonista neste processo, mas a gente
pode ajudar nas estratégias decorrentes da
necessidade ou não de medidas judiciais ou
prevenir medidas judiciais quando o
conservadorismo dos tribunais possa
atrapalhar a negociação coletiva”.
Cezar Britto concorda
que não é fácil negociação coletiva em
período eleitoral, mas, para ele, a unidade
dos trabalhadores é solução para isso.
Também acompanharam o Congresso os advogados
Breno Cavalcante e Isabela Blanco, do mesmo
escritório de advocacia.
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