VÍNCULO 1328 – Nada poderia ser mais contrastante com o estilo do ministro da Economia, Paulo Guedes, que o estilo do novo presidente do BNDES, Joaquim Levy. Seus discursos de posse, em Brasília e no Teatro do BNDES, no Rio, reforçam o que havíamos antecipado no último editorial do VÍNCULO em 2018 (“O que esperamos da próxima gestão do BNDES”). Levy fala como alguém que assumiu responsabilidades de governar o Brasil, que está a par das dificuldades e ciente dos desafios. Não como alguém que ainda vive na euforia da vitória eleitoral. Tranquilamente tirou ênfase de temas que vêm tomando conta das mídias sociais e dos discursos de seus chefes. Nenhum comentário sobre “caixa-preta” ou sobre montantes específicos a serem devolvidos ao Tesouro, muito menos maluquices persecutórias ou obscurantistas que assombram as áreas não econômicas. As prioridades setoriais mencionadas pelo presidente Levy para a atuação do BNDES foram infraestrutura – quer o BNDES mais envolvido com a geração ou desenvolvimento de um fluxo de projetos, além de seu financiamento em parceria com o setor privado – e setores que envolvam inovação e/ou tecnologia. Mencionou ainda a importância do apoio a governos subnacionais. Na entrevista coletiva, falou sobre privatizações. De “novidade”, o apoio às médias empresas. Como pudemos conferir, no terreno de para onde ir, nenhuma sinalização positiva sobre novas direções foi apresentada. Nenhuma grande ideia. Em matéria de prioridades, ou destino de aplicação dos recursos do BNDES, o discurso poderia ter sido feito por qualquer um dos últimos presidentes do Banco (incluindo Luciano Coutinho nos últimos anos de sua gestão). Se tivermos novidades no campo do papel do BNDES no futuro próximo, é provável que seja de forma negativa, ou seja, pela suspensão de algumas ações ou políticas, como parece que já foi com o caso do Giro. Mas é no ajuste do BNDES que parece estar o foco da análise e ideias do novo presidente. Nenhuma surpresa nisso. Está de acordo com seu perfil. Assumiu-se explicitamente a política de venda da carteira da BNDESPAR, o que já vem acontecendo, mas a ênfase deixa uma indicação de que deve ocorrer uma aceleração no processo. Foi igualmente confirmada a importância de um ajuste do balanço do BNDES para permitir as devoluções (ou “reduzir a exposição do Banco aos recursos do Tesouro”). Dois mecanismos devem ter importância nesse processo, que só foram explicitados na entrevista com os jornalistas: o uso de recursos internacionais para apoiar a infraestrutura e uma atuação do BNDES por meio de concessão de garantias. Mais do que qualquer nome do atual governo, o ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff lembra, em seus discursos, que o que está em marcha é a “continuidade no processo iniciado em 2015 de realinhamento das taxas de juros e diminuição da dependência de recursos do Tesouro Nacional”. Continuidade no BNDES e, deve ser dito, na condução geral da economia. Em resumo, a diferença de estilo, por importante que seja, não deveria confundir os que se preocupam com o futuro do Brasil e do BNDES. O programa do ministro Paulo Guedes e do presidente do BNDES é o mesmo. E o programa do atual ministro da Economia é também o mesmo do ex-ministro da Fazenda. A pergunta que fica depois de quatro anos é: está dando certo? Ninguém precisa ser defensor da “Nova Matriz Econômica” ou dos exageros do PSI para ser cético. Afinal, são quatro anos. O fato é que dois presidentes da República já foram enterrados por essas políticas. Denúncias de corrupção podem ter sido os catalizadores da insatisfação popular nesses dois casos, mas continua valendo que por trás quem fez o estrago foi “a economia, idiota”. E convenhamos, não se precisa de um pingo de cinismo, mas apenas de uma quantidade módica de realismo, para antecipar que não será por falta de catalizadores que um destino diferente deixará de bater à porta do atual governo. |
Empossado esta semana, o novo presidente do BNDES, Joaquim Levy, é engenheiro naval, com doutorado em Economia pela Universidade de Chicago, identificada com o neoliberalismo. Foi ministro da Fazenda na gestão Dilma Rousseff, por menos de um ano, e secretário do Tesouro no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006. Integrava a diretoria do Banco Mundial quando recebeu o convite para presidir o BNDES. Nascido no Rio de Janeiro, Levy fez mestrado em economia na FGV em 1987. Iniciou sua carreira em 1984, no Departamento de Engenharia e na Diretoria de Operações da Flumar S/A Navegação. Também foi professor do curso de mestrado da Fundação Getúlio Vargas em 1990, antes de integrar os quadros do Fundo Monetário Internacional (FMI), onde, de 1992 a 1999, ocupou cargos nos Departamentos do Hemisfério Ocidental, Europeu I e de Pesquisa, em particular nas Divisões de Mercado de Capitais e da União Europeia. No período de 1999 a 2000 exerceu, como economista visitante no Banco Central Europeu, atividades nas Divisões de Mercado de Capitais e de Estratégia Monetária. No ano de 2000 foi nomeado Secretário-Adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e, em 2001, Economista-Chefe do Ministério do Planeja-mento, Orçamento e Gestão, assumindo o Tesouro Nacional em 2003. Após deixar o governo federal, em 2006, Levy foi vice-presidente de Finanças e Administração do Banco Interamericano de Desenvolvimento, cargo que ocupou por oito meses. Depois, assumiu a Secretaria de Fazenda do estado do Rio de Janeiro, onde permaneceu por mais de três anos, indo em seguida para o comando do Bradesco Asset Management. Trigésimo sétimo presidente do BNDES nos 66 anos da instituição, Levy recebeu o cargo do ex-presidente Dyogo Oliveira na última terça-feira, após a posse oficial, em Brasília, no dia 7 de janeiro. |