VÍNCULO 1462 – Os empregados do BNDES gostariam de contribuir para várias normas relacionadas ao retorno ao trabalho presencial no Banco. Já expusemos essas contribuições diversas vezes.
Acreditamos que o risco aos empregados deveria ser contrastado, de forma clara, com o benefício que se espera obter com o retorno nesse momento. Nenhuma transparência foi obtida nesse terreno.
Os empregados do BNDES mais uma vez fizeram todos os esforços possíveis para deixar claro que querem acertar o retorno ao trabalho presencial nas novas condições vigentes.
Queremos acertar o retorno ao novo normal. Queremos retornar quando for seguro e em sistema de trabalho híbrido.
Essa negociação poderia ser simples. Por que isto não ocorre é o que se perguntam os empregados do Banco.
Nossa explicação é mais ou menos a seguinte.
A atual diretoria do BNDES almejava realizar uma ‘revolução’ no BNDES. Entraram no Banco ignorando tudo sobre a história real da instituição – e convencidos da propaganda sobre a ação supostamente nefasta da Casa nos anos petistas (e, engraçado, nos anos Temer também!).
A tarefa revolucionária da atual diretoria seria desmontar os mecanismos que permitiram o crescimento do BNDES – e enquadrar seus empregados. Nos mostrariam o que é o verdadeiro trabalho com base em sua experiência no setor privado, seus conhecimentos das maravilhas de produtos que o mercado financeiro, quando pilotados por entendedores, pode proporcionar à ação pública.
Todas as distorções seriam desfeitas. O BNDES iria captar seus próprios recursos, iria fornecer garantias ao invés de funding, não iria mais depender dos repasses do FAT ou da ‘mesadinha’ do governo federal (repetindo termo utilizado por um dirigente do Banco em palestra no Arino Ramos Ferreira). O Banco iria assumir riscos, operar com garantias e deixar e estimular fontes de financiamento privadas operarem. No plano interno, iria botar a galera para trabalhar pra valer, sem mimimi, sem negociar com ninguém. Nesse plano seria fundamental que se soubesse quem estava mandando. Manda quem pode e obedece quem tem juízo.
Há algo de delirante em tudo isso. Enquanto desmontam o BNDES e colocam seu funcionamento em risco com argumentos mal elaborados, evocam retoricamente que grandes metas estão sendo alcançadas. Que uma revolução está em curso.
Como não notar a semelhança com o discurso do presidente da República. Seu governo é um desastre internacionalmente reconhecido em todas as esferas: ambiental, sanitária, econômica, diplomática, mas o porta-voz-mor do governo fala em tom, sempre tosco, bronco, mas grandioso, sobre o que está sendo alcançado na sua administração. E sempre a celebração se dá na vitória contra inimigos imaginários (o comunismo, o globalismo etc.)
Guardando as proporções, o macabro episódio da Prevent Senior dá mostras do mesmo padrão. Enquanto induziam ou forçavam seus médicos a submeter pacientes a tratamentos bizarros e anticientíficos, os gestores da rede falavam em ‘fazer história’, em enviar os resultados obtidos para supostos grandes cientistas internacionais. Ser citado na rede social do presidente também era estar fazendo história!
Em resumo, não podem negociar com os empregados porque isso seria interpretado por seus chefes como renunciar à ‘revolução’ que deveriam estar realizando. A oposição dos empregados, confirma, de algum jeito, por mais paradoxal que seja, que estão fazendo o trabalho deles.
Os melhores dirigentes torcem para que a Justiça faça o trabalho deles, no estabelecimento do que é racional, livrando-os do constrangimento em relação ao ‘discurso revolucionário’ e diante de seus chefes. Os piores acreditam em seus delírios, ou não estão nem aí. Como já dissemos, o BNDES conseguiu se blindar durante a ditadura, mas não escapou do bolsonarismo. Estamos mergulhados nesse episódio dantesco da história nacional e universal.