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Técnicos e políticos

VÍNCULO 1590 – Ainda merece muita reflexão a longa jornada de resistência ao desmonte do BNDES. Uma experiência conturbada e dramática como essa guarda lições valiosas para os que se aventurarem.

Para dar um exemplo, talvez não controverso: o amplo reconhecimento na sociedade brasileira da qualidade do corpo técnico benedense se provou esteio importante, capaz de estabelecer constrangimento aos carrascos encarregados do desmonte; e talvez por isso algum limite à velocidade de destruição do Banco.

Ao se referirem à qualidade do corpo técnico do BNDES, muitos empregados costumam destacar o caráter “técnico” de sua atuação. Note-se que o uso do termo “técnico” abarca além da noção de “qualificado”, a de “não ideológico”, de “não político”. Como se fazer política, de acordo com esse ponto de vista, comprometesse o predicado de ser qualificado.

Nem sempre foi assim. Durante boa parte da história do BNDES, pelo menos até meados dos anos 80, os empregados foram percebidos como divididos entre duas correntes: “nacionalistas” e “cosmopolitas”.  Não consta que essa divisão entre visões tenha comprometido a imagem dos quadros do Banco.

Pode ser que a falta de alternativas de estratégias de desenvolvimento mais claras ou mesmo a busca por proteção em relação à alternância ideológica das administrações explique a difusão dessa visão do “técnico neutro”, “apolítico”.

Note-se que para funcionar como proteção o posicionamento apolítico pressupõe tacitamente que sempre caberá ao Banco algum papel de destaque na implementação da política governamental de ocasião.  Nos governos Temer e Bolsonaro, entretanto, a principal política a ser tocada era a da eutanásia institucional. Afinal, que medida da gestão Maria Sílvia foi mais significativa que a criação da TLP? E quais foram as medidas da gestão Montezano que marcaram mais sua passagem do que a liquidação de metade da carteira da BNDESPar?

Ficou claro nesse período que era urgente uma ação política dos empregados em defesa da instituição. A atuação da AFBNDES a partir de 2016 representou sobretudo esse entendimento, compreendido por boa parte dos funcionários.

E é importante registrar que essa não foi a primeira vez que os empregados optaram por atuar politicamente em defesa da instituição.

Logo após a ação fundamental do BNDES no Plano de Metas, “no período de grande turbulência política que caracteriza os anos 1961-1964, o Banco foi muitas vezes alvo de ataques partidários e de discussão pública”1. A coisa ficaria ainda pior nos primeiros meses depois do Golpe de 64. O Banco é perseguido por sua associação com iniciativas do Governo Goulart, é deixado de lado no PAEG (primeiro plano econômico do governo militar) e tem sua existência ameaçada: “o projeto do Executivo sobre a reforma tributária (…) extinguia o Fundo de Reaparelhamento Econômico que constituía a fonte principal de recursos do Banco”2. Roberto Campos, o responsável pelas ameaças, “partiu da hipótese de que não precisava mais do Banco, pois teria um sistema financeiro novo para financiamento”3.

O que impediu a concretização desse destino? A ação política dos quadros do BNDES.

Numa conversa informal entre Maria da Conceição Tavares e Luciano Martins (considerado por ela o “o biógrafo do BNDES”), ela comenta sobre esse período: “é a isso que você [Luciano] se refere quando diz existir uma tecnocracia concursada, de mérito, que pretende manter a autonomia do [BNDES], e se houver inimigo externo eles se juntam”. Conclui, Conceição: “[i]sso é que é divertido”4.

1 e 2. Estado Capitalista e Burocracia no Brasil Pós 64, Luciano Martins, Paz e Terra,1985.

3 e 4. Memórias do Desenvolvimento, número 4, Centro Celso Furtado, 2007.

►  Este editorial foi publicado originalmente no GIRO BENEDENSE, em 18/04/2024.

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