VÍNCULO 1570 – Boletim Especial do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado em 17 de setembro, no mês da Consciência Negra, informa que o mercado de trabalho é espaço de reprodução da desigualdade racial no Brasil. “Tanto a inserção quanto as possibilidades de ascensão são desiguais para a população preta e parda. E as mulheres negras acumulam as desigualdades não só de raça, mas também de gênero”, destaca o Dieese.
O Boletim examina a inserção da população negra no mercado de trabalho brasileiro e algumas facetas da discriminação racial. Os dados analisados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PnadC-IBGE) e referem-se ao 2º trimestre de 2023. Confira alguns destaques:
– Embora representem 56,1% da população em idade de trabalhar, os negros ocupavam apenas 33,7% dos cargos de direção e gerência. Ou seja, um em cada 48 trabalhadores negros ocupa função de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para 18 trabalhadores.
– Entre os desocupados, 65,1% eram negros. A taxa de desocupação dos não negros está em 6,3% no 2º trimestre de 2023.
– Quase metade (46%) dos negros estava em trabalhos desprotegidos. Entre os não negros, essa proporção era de 34%.
– Os negros ganhavam 39,2% a menos do que os não negros, em média. Em todas as posições na ocupação, o rendimento médio dos negros é menor do que a média da população.
Segundo o Dieese, mais de um quarto (26,6%) das mulheres negras aptas a compor a força de trabalho declararam se encaixar em uma das seguintes situações: (1) estavam desocupadas ou (2) não tinham procurado trabalho por falta de perspectiva ou (3) estavam ocupadas, mas com carga de trabalho inferior à que gostariam. É o que mostrou a taxa composta de subutilização da força de trabalho. Entre os homens não negros, essa taxa foi de 11,2%. “Ou seja, a inserção das mulheres negras no mercado de trabalho é mais difícil, mesmo em contexto de melhora da atividade econômica”, atesta o Boletim.
Quando conseguem ocupação, as condições de inserção dos negros são mais desfavoráveis. Em geral, conseguem se colocar em postos mais precários e têm maiores dificuldades de ascensão profissional. Apenas 2,1% dos trabalhadores negros – homens ou mulheres – estavam em cargos de direção ou gerência. Entre os homens não negros, essa proporção é de 5,5%. “Isso significa que apenas um em cada 48 trabalhadores negros está em cargo de gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de um para cada 18 trabalhadores”, ressalta do Dieese.
Em 2023, destaca o Boletim, foram anunciadas políticas com ações específicas para os negros e negras do país. Além de garantir igualdade salarial entre homens e mulheres, via Lei 14.611/2023, o presidente Lula criou o Ministério da Igualdade Racial e alterou o Estatuto da Igualdade Racial, para incluir informações sobre raça e etnia de trabalhadores nos registros administrativos de empregados dos setores público e privado. O governo anunciou ainda que destinaria 30% dos cargos em comissão e funções de confiança da administração federal a pessoas negras.
“Na construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida, não se pode deixar que mais da metade dos brasileiros seja sempre relegada aos menores salários e a condições de trabalho mais precárias apenas pela cor/raça ou pelo gênero. É necessário amplo trabalho de sensibilização para que todas as políticas públicas sejam desenhadas e implementadas com o objetivo de atacar o problema das desigualdades – especialmente no mercado de trabalho. O caminho a ser percorrido é longo, mas o trajeto precisa ser feito com determinação e agilidade”, conclui o Dieese.
Para acessar o Boletim do Dieese, clique aqui.