VÍNCULO 1588 – Na última terça-feira, 2 de abril, foi celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Uma oportunidade para marcar a data e chamar a atenção da sociedade para o transtorno do espectro autista, bem como sobre as necessidades e os direitos das pessoas autistas. Em 2024, o tema é “Valorize as capacidades e respeite os limites!”.
No Rio, o Santuário Cristo Redentor realizou uma projeção mapeada no monumento com o quebra-cabeça, símbolo que representa a complexidade do autismo e seus diferentes espectros que se encaixam formando o TEA.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode caracterizar desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o autismo afeta uma em cada 100 crianças em todo o mundo.
Apesar dos esforços e avanços, como leis e campanhas, pessoas com autismo ainda enfrentam preconceitos e dificuldades. Entre elas está a inclusão escolar e no mercado de trabalho e a cobertura de planos de saúde. São direitos regulamentados, mas muitas vezes não cumpridos.
No Brasil, desde 2012, com a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, as pessoas com o transtorno passaram a ser reconhecidas e a ter os mesmos direitos de pessoas com deficiência.
A repórter Carolina Pessoa, da Rádio Nacional/Agência Brasil, entrevistou vários profissionais sobre o tema. O presidente da Organização Neurodiversa pelos Direitos das Pessoas Autistas, Fábio Cordeiro, que é autista, disse que já foi ofendido devido à condição, além de ter direitos violados, como, por exemplo, a negativa de credencial de estacionamento na cidade de Curitiba, com a justificativa de que ela só é dada a quem tem problema de mobilidade.
“Eles negam às pessoas autistas esse direito. Agora em momento nenhum a determinação cita especificamente a dificuldade de mobilidade física, ela apenas prevê a dificuldade de mobilidade. No autismo essa dificuldade de mobilidade se dá por várias outras questões, que o próprio diagnóstico já engloba”, explicou Cordeiro.
O palestrante Jhon Polanski também é autista e conhece essa realidade. Recentemente, na prova da Ordem dos Advogados do Brasil de Santa Catarina, teve negado o uso do abafador.
“Eu solicitei previamente a banca examinadora a permissão para usar os abafadores de ruído, que para a minha concentração é fundamental. E mesmo com o laudo médico foi subestimado. Eles pensaram que me colocando em uma sala silenciosa, sob o olhar deles, ia suprir a falta dos abafadores. Mas para uma pessoa com hipersensibilidade auditiva como eu a sala não era nada silenciosa”, contou.
O espectro do autismo é abrangente, com vários subtipos. Há desde pessoas com outros transtornos, doenças e condições associadas, até pessoas independentes. Algumas nem sabem que são autistas, pois jamais tiveram diagnóstico.
O neurologista Paulo Lobão, da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, ressalta que muitas dificuldades encontradas se devem à falta de conhecimento da sociedade quanto ao transtorno.
“O maior limitador hoje na sociedade é realmente o conhecimento do transtorno porque muita gente, a grande maioria da população, quando fala sobre autismo, imagina uma pessoa que tem um quadro de agressividade, um quadro de alto comprometimento, então cria-se um estereótipo muito negativo, um estereótipo muito severo, e que não é a grande maioria dos pacientes”, exemplifica.
Diagnóstico tardio – Abordando o tema, Roberta Azevedo de Almeida e Antonio Ricardo Mesquita, que coordenam a Comissão de PCDs e Responsáveis por PCDs da AFBNDES, escrevem artigo nesta edição do VÍNCULO intitulado “Como incluir, acolher e apoiar os empregados neurodivergentes diagnosticados tardiamente?”, que pode ser acessado aqui.
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