
VÍNCULO 1599 – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu, na quarta-feira (19), por unanimidade, interromper o ciclo de cortes de juros e manter a Selic (os juros básicos), em 10,5% ao ano. A justificativa da autoridade monetária para a decisão é a tendência de aumento da inflação. A decisão gerou reações negativas junto aos trabalhadores e entre os principais representantes do setor produtivo.
O economista da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Gustavo Cavarzan, explica que a Selic tem influência importante no desempenho econômico do país.
“Juros altos prejudicam o governo, com aumento de custos no pagamento dos títulos da dívida pública, reduzindo recursos para outras áreas importantes, como saúde e infraestrutura. A Selic também influencia nos juros de todo o sistema financeiro, com isso, o crédito fica mais caro para famílias e empresas, aumentando o endividamento e, ao mesmo tempo, impedindo investimentos na economia real e, portanto, na criação de mais empregos”, resumiu.
A presidente da Contraf-CUT e vice-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, destacou que o Brasil segue com a inflação sob controle e, portanto, as justificativas do Copom são falhas e prejudicam diretamente uma das obrigações do BC, que é colaborar com aumento do nível de empregos no país.
“Usar o argumento de se preparar para expectativas futuras de inflação maior é uma falácia. A manutenção da Selic alta é proibitiva ao crescimento econômico e apenas reafirma que o órgão é suscetível às pressões do mercado financeiro e, assim, se desvia das responsabilidades para com o país”, pontuou. “Os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras”, completou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou inadequada e excessivamente conservadora a decisão do Copom de interromper o ciclo de cortes na Selic, mantendo-a em 10,5% ao ano. Isso porque, neste momento, “a decisão só irá impor restrições adicionais à atividade econômica – com reflexos negativos sobre o emprego e a renda –, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício”.
“A manutenção do ritmo de corte na Selic seria o correto, pois contribuiria para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem prejudicar o controle da inflação” defende o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Para a Firjan, o fim do ciclo de cortes da Selic, além de prejudicar a recuperação da economia, limita a expansão dos investimentos no país:
“Esse patamar elevado continua a limitar a expansão dos investimentos. Ademais, a indústria, entre os principais setores que compõem o PIB, foi a única a apresentar desempenho negativo no último trimestre. Os dados mais recentes reforçam a falta de dinamismo no setor, evidenciando a necessidade de uma política monetária mais favorável ao crescimento econômico”.
Para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o atual nível de juros gera preocupações significativas sobre os efeitos adversos no crescimento econômico. “Com a Selic permanecendo alta, o custo do crédito continua a pressionar negativamente o setor produtivo, desestimulando investimentos essenciais para o desenvolvimento sustentável do país. Essa política, acaba por restringir a capacidade de recuperação econômica, prejudicando a criação de empregos e a competitividade das empresas brasileiras”, acrescenta a Associação em nota.
A decisão do Copom também preocupa a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em linha com os demais setores produtivos do país, a instituição diz que “este é um movimento equivocado, já que ainda haveria espaço para uma redução de 0,25 pontos nesta reunião”.
“O freio na queda da Selic ocasiona prejuízos no setor do comércio com o encarecimento do financiamento para as empresas, o que dificulta o desenvolvimento do país como um todo”, avalia a CNC.
Para Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), os juros no atual patamar desestimulam o crédito para investimentos e o consumo, dificultam um crescimento mais expressivo da economia e limitam a geração de empregos.
O Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – disse faltar explicação racional para o fato da taxa de juros estar ainda acima dos dois dígitos, quando temos uma inflação anual de menos de 4%: “Da maneira como está sendo conduzido, o Banco Central não é independente, não serve aos interesses do povo brasileiro, porque está sendo utilizado a serviço dos rentistas, daqueles que ganham dinheiro, tornando ainda mais difícil a vida do trabalhador”, disse o presidente Décio Lima.
Quem também citou a inflação baixa ao comentar a decisão do Copom foi o economista-chefe da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, em entrevista à CNN. Para ele, “o risco inflacionário não é latente”.