Israel Blajberg – Engenheiro aposentado do BNDES
Vínculo 1523 – Era uma manhã luminosa. Há alguns anos ele não ia ao Clube da Barra, mas dessa vez havia bom motivo, o tradicional almoço anual dos aposentados.
Ao adentrar o clube, afloram as lembranças. Era recém-casado quando ingressou no Banco. Corriam os anos 70, tempos de milagre, tempos do saudoso Marcos Vianna, o presidente que tanto tempo conduziu esta casa. Era uma pequena grande família onde todos se conheciam, quando o Clube da Barra foi inaugurado, em noite memorável a que o quadro funcional compareceu em peso, os carros estacionando no acesso da então Avenida Alvorada. O Clube era uma ilha luminosa na noite escura da Barra ainda algo idílica, onde falaram os presidentes da AF e do Banco, seguindo-se animada festa.
Apenas nasciam o Barramares, Riviera del Fiori, Alfabarra e outras máquinas de morar que aos poucos tomariam cada metro quadrado livre na região, pouco a pouco determinando o fim do bucolismo rural predominante, depois transferido para o Recreio, e hoje, nem mesmo lá encontrado. Virou uma metrópole, ainda que mais humana do que as grandes máquinas de moer gente.
O Banco ainda era na Rio Branco 53, e a AF na Rua Teófilo Ottoni. O projeto do clube foi da autoria de um colega arquiteto, que ao mesmo tempo trabalhava nas obras do futuro Edserj. Eram tempos da Barra distante e de difícil acesso, compensado pelas praias limpas e belezas naturais, onde Carrefour e Makro eram grandes atrações, pois tinham bons preços. Não havia metrô nem Lagoa-Barra, muito menos Linha Amarela. Telefones eram raridade por lá, celular e internet nem se sonhava, assim como duplicação e alargamento da Avenida das Américas e Sernambetiba, esta há poucos anos asfaltada. Muitos terrenos vazios, ar puro, pouco movimento de carros e pessoas. Tudo ideal para férias e lazer.
Aos domingos, as crianças adoravam ir a piscina e correr pelos espaços vazios do clube, ainda sem o arvoredo de hoje, na época tenras mudinhas. A paisagem agora ficou muito diferente daquela época, quando era uma espécie de clareira imensa, pontilhada por quadras de esporte, de onde se tinha uma visão panorâmica dos céus da Barra e das vizinhanças. Ficou adensado, compacto. As árvores cresceram, suas copas hoje frondosas limitam a visão, mas por outro lado proporcionam sombra agradável. Apenas os enormes arranha-céus pontificam à distância, aparecendo no campo visual por cima das árvores.
De qualquer modo, ainda evoca as lembranças de tantos fins de semana, das peladas, dos churrascos, bem como dos seminários que o Banco promovia, e das festas de aniversário do BNDES, que nunca mais foram lá realizadas.
Chegou cedo, a banda ainda ensaiava as músicas. Em uma mesa, embalado pelos imortais Elvis e Sinatra, os olhos semicerrados, um sonho se materializa em sua mente. Parece ver-se ele mesmo há muito tempo, em outra festa assim, em roupas da época, cercado por outros rapazes e moças ainda jovens. Reconhece um e outro aqui e ali, uns se tornaram grandes expoentes, diretores, superintendentes, outros não tiveram tanta sorte. Para alguns a vida sorriu, para outros nem tanto. Lamentavelmente alguns partiriam prematuramente.
Aos poucos os colegas vêm chegando. Mais uma vez os abraços apertados dos velhos companheiros, de uma época fantástica, eternos e antigos Benedenses, happy few, band of brothers…
Tantos anos trabalhando juntos. Agora aqui estamos. Um dia pertencemos a uma instituição quase sagrada, sem saber que nos deixaria a marca indelével dos tempos em que aportamos a nossa modesta colaboração, para o funcionamento da Poderosa Máquina Benedense, neste imenso Brasil, ajudando esperançosos empreendedores a dar vida a um projeto, gerar mais empregos, mais progresso, maior justiça social para nossa gente tão sofrida.
Décadas se passaram. Colegas se mudaram, alguns partiram, nos deixando a eterna lembrança. Apenas uma fração dos aposentados conseguiu se reunir. Eram jovens funcionários. Hoje jovens aposentados, ainda que o tempo que não perdoa tenha embranquecido raros cabelos e aumentado cinturas com mais alguns quilos, deixando as suas marcas, das quais alguns escapam mais, e outros menos…
Colegas como ele, passaram no disputado concurso… não demorava e já se tornavam benedenses autênticos, trabalhando pelo Brasil. Se lhes dissessem, não acreditariam. Sua existência neste Vale de Lágrimas seria plena de lutas, sofrimentos, alegrias, mas coroada de realizações.
E hoje ali estão aqueles aposentados, tão jovens de espirito como quando entraram, sorrisos, alegrias, recordações… O tempo passou mais depressa do que gostariam, mas valeu a pena.
A festa vai terminando… O contentamento de todos em estar ali… Continuamos unidos, pelos mesmos ideais de desenvolvimento do Brasil.
No próximo ano, se o Grande Arquiteto do Universo assim o desejar, estaremos juntos mais uma vez, sempre em alegrias, comemorando a Vida, e a Eternidade Benedense!