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Canibalismo 1 – Agradecimentos

Paulo Moreira Franco – Economista, aposentado do BNDES

Vínculo 1513 – I’ve known good criminals and bad cops, bad priests, honorable thieves. You can be on one side of the law or the other, but if you make a deal with somebody, you keep your word. You can go home today with your money and never do this again, but you took something that wasn’t yours and you sold it for a profit. You are now a criminal. Good one, bad one, that’s up to you. (Better Call Saul, “Pimento”)

Molon, Marcelo Freixo, Haddad: eu vos agradeço. Vocês são homens honrados. Vocês reiteraram meu amor à política, vocês renovaram minha compreensão do mundo, minha apreciação das coisas.

Molon, Freixo: a preocupação de vocês com a corrupção acima de qualquer coisa, a história reiterada de vocês combatendo-a, ao lado do MP, ao lado da Lava Jato, ao lado do juiz Bretas. Que grande, belo resultado isso trouxe. Vocês as Belas Almas (de Hegel). Embora veja uns pratos cuspidos.

Diogo Fraga, method acting de um canastrão insosso. Você acredita no personagem. Seus eleitores sabem por que você conseguiu fazer sua CPI? Vamos montar uma outra história, uma história que não é Padilha. Vamos contar uma história sem ilusões de que haja mocinhos e vilões. Nessa história, há bandidos e otários, e por vezes bandidos-otários.

Havia uma ALERJ, uma ALERJ que controlava de fato a política neste estado, que controlava o Estado. Bandidos, você poderá dizer, mas como diz Mike no monólogo da epígrafe, gente que cumpre acordo, cujo filho vota contra o impeachment. Gente que vendo este perverso Dharma envolvendo Fetranspor e quem mais depende da regulação pública começando a ser rompido nas desordens neoliberais de topiqueiros, gateiros e outros fenômenos protomilicianos, e a milícia começando a surgir para reestatizar esses espaços de desordem, uma reestatização privada onde os agentes públicos locais fazem seu provimento privado de ordens, toma a providência de dar um “Basta!” nessa palhaçada. E esse comando da ALERJ pega o mané dos manés de direitos humanos e o deixa enfiar uma CPI até o talo na milícia nascente. Meia década depois do filme, a antipolítica pequeno burguesa leva a um judiciário evangélico-ativista que parte para exterminar com o PMDB e a ALERJ. No vácuo que se instala, a milícia se torna hegemônica. A milícia, as máquinas ideológicas evangélicas, tudo isso que estava sob a subordinação deste leviatã perverso que era a ALERJ, agora assumindo o protagonismo. Foi bom pra você, Freixo? Foi bom pra você, Caê? O incensamento do Bretas valeu a pena? Ou vocês vão apagar o passado qual Huck? Crickets, como se diz em inglês, de autocrítica.

Há um pânico contido, uma ausência de engajamento disfarçada sob a etiqueta. Freixo não quer ganhar. Freixo não quer ver sua imagem corroída por ter que tomar decisões executivas na qual não há lado bonito, positivo. Governar é um trolley problem atrás do outro, ou, como diria o popular, trolha atrás de trolha. Freixo quer continuar moça pura, cabaça, virginal.

Molon, almofadinha paradigmático, carola, engomadinho. Larga o PT onde fez carreira na ala de esquerda muito, muito, muito moderada católica para acompanhar Marina naquele partido de pessoas limpinhas (com a benemerência da Natura) e boazinhas (com a sabedoria da herdeira do Itaú) que era a Rede. Ele e Miro Teixeira (sem maiores comentários). Molon, discípulo de Barroso, este luminar iluminista cuja branca luz pisca no STF a nos ensinar a direção que devemos seguir. Molon que não resiste à sedução de Molloch. Antes da Terceira Via, há o Terceiro Setor que minora as dores dos despossuídos e agrega tantos irmãos de ideias, ideais e bancos escolares. Molon é hoje Lehmann. Isso é totalmente compatível com o discurso pequeno-burguês anticorrupção. Afinal, a generosidade do empresário para com o povo nada tem a ver com decisões técnicas tomadas pelos três poderes. Não é lobby, não é kick-back, santificado seja o vosso nome. Molon, obrigado por sua resistência, por garantir que um nome ruim, desses setores corruptos e despreparados do PT, não pudesse ser alvo de uma campanha conjunta, coordenada. É necessário que os valores do individualismo puro, honesto, floresçam a qualquer custo, mesmo que desabe o céu. Você triunfou, a Fundação pode ter certeza disso.

O que nos traz a Haddad, que sonham Fernando III. Tecnicamente, Haddad ainda está vivo. Haddad é bom moço como os outros dois. Há quem sonhe nele o terceiro Fernando, uma versão da elite modernizadora sem a raiva trincada do primeiro (blessed are the cracked…), sem a creepiness e a arrogância de FHC. A pergunta é: consegue Haddad empolgar? Embora menos almofadinha que Molon, consegue ele deixar de sê-lo num momento em que não se pede mais elites instruídas, mas pessoas que fazem?

Não tenho como excluir este terceiro. Tanto ele quanto Freixo foram escalados para serem segundos pilotos. O objetivo do segundo piloto não é ganhar corrida, mas ajudar na estratégia da equipe que pretende ganhar com o primeiro piloto. Se considerarmos que Rosinha era mais propriamente uma candidata do campo evangélico do que da esquerda – tanto que derrotou a governadora Benedita –, a esquerda não ganhou nenhuma das eleições para governador neste século no Rio ou em São Paulo. Portanto, qualquer ideia de que a campanha para governador deveria ser descolada da campanha nacional em busca de uma vitória local era, no mínimo, ambiciosa. Freixo conduziu seu discurso nos debates e sua campanha nas ruas em cima de seus atributos pessoais de homem que enfrentou as milícias e a corrupção. Seus ataques ao atual governador centravam-se em acusações de corrupção, espelho dos insignificantes satélites do bolsonarismo, sejam na eleição presidencial, seja o da eleição local, que se dedicavam a bater na mítica corrupção do PT. Mas defender Lula significava desmoralizar o conjunto de lavajatismo que prendeu os governadores e atentou contra Rodrigo Neves. Parafraseando Frederico N., quando você cuspe muito tempo no prato, o prato cospe você.

Haddad, não sei sob que genialidade política de uma intepretação da disputa no estado, resolveu fazer do (suplente de) governador seu alvo. Um governador que é uma das poucas coisas que sobrava de um PSDB francamente decadente. Certamente achava que ele seria seu rival no segundo turno como os analistas políticos paulistas achavam até os 45 minutos que Geraldo confrontaria Bolsonaro ou o candidato do PT em 2018. O fato de que num eventual segundo turno da eleição presidencial o apoio do PSDB poderia ser importante para Lula, isso não vinha ao caso pelo visto. E subestimar aquele que, no curto período que trabalhei perto da comunicação do Banco, já podia ser percebido como o maior destaque entre os ministros do governo, aquele com maior desenvoltura nas redes sociais sem ser um personagem caricato, isso mostra que usar waze é coisa do presente.

Haddad, Freixo e Molon são sintomas dessa fragmentação de uma política que perdeu sua dimensão maior, sua perspectiva de compromisso coletivo. Que isso aconteça no campo liberal é admissível de se pensar levando em conta o próprio discurso. Que isso aconteça no campo da esquerda é a própria negação do que se propõe a ser. Entre suas lendas pessoais e os compromissos políticos que os puseram lá, Freixo e Molon optaram por si mesmos. O terceiro, Haddad, me parece ser mais um caso de uma ciência social que não pisou o chão para entender o Brasil contemporâneo, que se deixa contaminar pelos cosplays do narcisismo da Zona A. Mas essa é outra história deste ano dos centenários de 22.

Uma guerra acontece neste ano de críticas eleições. Guerra, relações internacionais, eleições: esses eram os assuntos que eu estudava/pesquisava antes de entrar no Banco. Agora… agora eles explodem, eles retornam à minha atenção, três décadas depois. A eles voltarei dentro de um Consenso com Washington. Até a próxima!

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