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“Como incluir, acolher e apoiar os empregados neurodivergentes diagnosticados tardiamente?”, por Antonio Ricardo Mesquita e Roberta Azevedo de Almeida

Vínculo 1588 – Recentemente, muitas empresas têm se deparado com a seguinte situação: empregados que não possuíam diagnóstico de autismo, TDAH, dificuldade de aprendizado ou dislexia têm apresentado laudos de especialistas atestando que possuem uma ou mais de uma das condições apontadas acima. É o que se pode constatar no artigo “Impactos do diagnóstico tardio do transtorno do espectro autista em adultos” [i], vários autores, de 2022.

E surgem as perguntas: “Como esses profissionais foram admitidos sem serem diagnosticados anteriormente?” e “Como lidaremos com essa situação?”. O artigo “Autismo em adultos: Diagnóstico veio aos 50 e trouxe alívio muito grande”, de Fernanda Beck, publicado no portal UOL, em 26/11/2022, discorre sobre o caso de Marcelo Vindicatto e o seu diagnóstico como autista aos 56 anos.[ii]

Em geral, as instituições não sabem como encarar essa realidade que tem se tornado cada vez mais frequente. Um estudo realizado em 2019, sob o título “A inclusão no mercado de trabalho de adultos com Transtorno do Espectro do Autismo: uma revisão bibliográfica”, traz importantes evidências sobre o despreparo das organizações. Se para elas e os gestores que convivem diariamente com esses profissionais é difícil encarar a situação apresentada, quem dirá para aqueles que passaram anos sem um diagnóstico adequado e sem compreender os problemas que os afetam e até mesmo quem são.

Apesar de ouvirmos com mais frequência relatos sobre crianças diagnosticadas como neurodivergentes, do autismo e outros transtornos do neurodesenvolvimento serem tratados com mais abertura pela sociedade, e do acesso aos especialistas e tratamentos necessários estar mais fácil agora, no passado vários fatores contribuíram para que esses adultos, diagnosticados tardiamente, não tivessem a mesma oportunidade que as crianças da geração atual.

A mudança de percepção dos especialistas sobre a necessidade de entender mais sobre o autismo, ao longo dos últimos anos, contribuiu para a ampliação dos estudos, o aprimoramento dos diagnósticos e o aumento de pessoas diagnosticadas recentemente. Contudo, as pessoas das gerações passadas cresceram sem as informações e os recursos atualmente disponíveis, resultando na falta de acesso ao diagnóstico precoce ou no diagnóstico equivocado de depressão ou ansiedade, por exemplo.

Além disso, o fator econômico impediu ou dificultou o acesso de alguns grupos específicos (idosos, mulheres, pessoas negras e pessoas de baixo nível socioeconômico) ao diagnóstico precoce, já que sem recursos financeiros eles não conseguiam o atendimento médico necessário e adequado. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2021, os custos associados ao diagnóstico e tratamento do autismo podem ser proibitivos para muitas famílias em países de baixa e média renda.[iii]

A falta de acesso a uma educação de qualidade e de conhecimento da sociedade sobre a neurodiversidade também contribuiu para que esses adultos fossem diagnosticados tardiamente. Muitos deles são frequentemente apontados como pessoas “preguiçosas”, “desatentas” ou até mesmo “mal-educadas”, o que dificulta ainda mais o diagnóstico. Um interessante texto da organização civil “Autismo e Realidade” aborda os desafios que a sociedade precisa enfrentar de maneira simples com a apresentação de filmes e séries que contam com personagens autistas, tornando o assunto leve, mostrando os diversos tipos de comportamentos, conscientizando sobre diagnósticos e tratamentos, além de colaborar para minimizar os estigmas e discriminações.[iv]

Muitos adultos só identificam que são autistas ou que possuem TDAH quando seus filhos são diagnosticados ou após uma situação de esgotamento ou estresse, decorrente do aumento das demandas, mudanças ou desafios, que podem ter relação com o excesso ou alteração da rotina de trabalho, pressão por resultados, assédio, dificuldade de interagir com os colegas ou de se adaptar a um ambiente sensorialmente exaustivo (excesso de barulho ou de luminosidade e baixa temperatura, por exemplo).

O texto “Autismo em adultos: Diagnóstico veio aos 50 e trouxe alívio muito grande”, citado anteriormente, aborda o diagnóstico dos progenitores após o diagnóstico dos filhos. Algo muito mais comum do que se imagina. Conhecemos colegas aqui do BNDES que “se compreenderam” melhor após notarem que seus filhos apresentavam comportamentos semelhantes aos seus e, com o apoio profissional, puderam acessar terapias e medicamentos para melhorar a sua qualidade de vida.

O diagnóstico tardio pode desenvolver diferentes emoções e sintomas nos adultos neurodivergentes. Desde o alívio, por poder compreender melhor os seus desafios íntimos, como também desencadear comportamentos diversos, como irritabilidade, insônia e depressão, impactando diretamente na produtividade e na autoestima desses profissionais. Mas como a empresa pode ajudar esses empregados a superarem essas dificuldades?

Primeiramente, é preciso oferecer um ambiente de trabalho no qual o acolhimento, o respeito às diferenças, bem como a solidariedade entre os colegas sejam estimulados.

Além disso, é necessário apoiar e acompanhar os empregados neurodivergentes, a fim de compreender suas dificuldades e como podem promover a acessibilidade necessária.

A empresa também precisa realizar treinamentos e palestras sobre neurodiversidade que envolvam gestores, profissionais de Recursos Humanos e demais empregados, buscando orientá-los sobre empatia, comunicação e ambiente inclusivo e sobre como evitar situações preconceituosas e excludentes. Ações como essas contribuirão para estimular o senso de pertencimento e reforçar a importância do respeito à diversidade.

Os processos de recrutamento e seleção também devem ser revistos para estimular a contratação de funcionários, estagiários e jovens aprendizes neurodivergentes e reduzir o preconceito dos gestores responsáveis pelas contratações.

A Specialisterne é referência em processos de inclusão de pessoas neurodivergentes no ambiente de trabalho. O artigo “Apoio a funcionários neurodivergentes com diagnóstico tardio”, de Ludmila Praslova, publicado em março de 2024, apresenta conceitos atuais de forma simples e ao mesmo tempo abrangente. Ele ajuda o leitor a compreender os fatores que contribuíram para as disparidades no diagnóstico tardio, os possíveis desencadeamentos decorrentes desse atraso e algumas ações de suporte e acolhimento que as empresas podem realizar para ajudar seus profissionais.[v]

Ainda há muito a evoluir, mas os primeiros passos para o fim da invisibilidade já foram dados. Precisamos criar processos efetivos de acolhimento, que respeitem as diferenças, bem como auxiliem – e não excluam – esses profissionais.

E sobre a nossa realidade aqui no BNDES? Temos políticas inclusivas? Sabemos as condições de saúde mental do corpo funcional? Estamos preparados para acolher os neurodiversos existentes e os que estão por entrar no próximo concurso público, principalmente por ser o primeiro concurso público em que os autistas poderão ingressar na cota PcD?

Essas e outras questões poderão ser mais bem exploradas em um próximo texto, celebrando o mês de abril, que é o mês de conscientização sobre o autismo.

(*) Antonio Ricardo Mesquita e Roberta Azevedo de Almeida são coordenadores da Comissão de PCDs e Responsáveis por PCDs da AFBNDES.


[i]   Artigo disponível no site https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/download/38175/31756/419015

[ii] Artigo “Autismo em adultos: ‘Diagnóstico veio aos 50 e trouxe alívio muito grande” disponível no site https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/11/26/a-importancia-do-diagnostico-mesmo-que-tardio-do-autismo.htm

[iii] Relatório disponível na página https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/autism-spectrum-disorders

[iv]Artigo “Diminuir o estigma é aumentar a inclusão social” disponível em   https://autismoerealidade.org.br/2020/06/18/diminuir-o-estigma-e-aumentar-a-inclusao-social/

[v] Artigo “Apoio a funcionários neurodivergentes com diagnóstico tardio” disponível em https://specialisternebrasil.com/apoio-a-funcionarios-neurodivergentes-com-diagnostico-tardio/

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