Celso Evaristo – Empregado do BNDES
Vínculo 1251 – Quando Nicolau Maquiavel (1469/1527) escreveu sua obra máxima, O Príncipe, estabeleceu as bases para o estudo da política enquanto ciência do Estado moderno; descolou questões éticas, morais, das razões de interesse estrito do Estado, ou melhor, subordinou aquelas a estas, para o equilíbrio da convivência coletiva e a manutenção do poder pelo soberano. Séculos se passaram, o capitalismo surge, evolui e desemboca hegemônico na sua etapa financeira atual, onde as razões de Estado subordinam-se às razões de Mercado.
Nos dias atuais, pouco importam a moral, as normas, os preceitos, a ética, tudo deve estar subordinado aos interesses e à lógica do mercado capitaneado pelo sistema financeiro; à manutenção da sua ‘calma’. Todo cuidado é pouco para evitar o risco de qualquer volatilidade no seu funcionamento. O mercado (esse ser, ao mesmo tempo, abstrato e antropomorfizado) não pode ser incomodado. Não se pode fazer barulho nem alterar o modus operandi a que está acostumado. Essa estabilidade precária é condicionada, em grande parte, à outra quase impossível estabilidade – a política. É o que vemos agora no mundo e vivenciamos, dramaticamente, no Brasil.
O mercado financeiro reagiu positivamente à não cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE. O presidente do tribunal, ministro Gilmar Mendes, já sinalizara que a estabilidade política do país deveria ser levada em consideração no julgamento. Setores da mídia e do empresariado também alertaram para os impactos na economia caso o desfecho não fosse favorável a Temer.
Esse fato – a continuidade de Temer – garante, na ótica do Mercado, o arranjo político na base congressual de apoio do governo. É o pressuposto de que a manutenção de um presidente moral e politicamente debilitado perante a opinião pública, porém comprometido com as reformas em curso (trabalhista e da previdência), é a garantia de que as medidas ‘certas’ serão tomadas pelo Congresso onde ele tem maioria parlamentar. Não importa se esse presidente perdeu a capacidade de governar; não importa se nossa democracia se afunda na lama da condescendência com as piores práticas corruptas; não interessa se inexiste um mínimo de consenso formado na sociedade sobre a forma, conteúdo e ritmo das tais reformas. Nada disso tem valor. As razões de Mercado têm a força de um imperativo categórico. São tão implacáveis, ao ponto de a antes cega justiça passar a enxergá-las bem acima de qualquer valor republicano.