Juliana Santiago e Eduardo Bizzo – Chefe e Gerente do Departamento de Gestão do Fundo Amazônia/BNDES
Vínculo 1309 – Desde o final do Século XX, com a crescente preocupação sobre o futuro do planeta, a degradação ambiental e o crescimento desordenado, a sociedade vem repensando os padrões de desenvolvimento. Em 1972, em Estocolmo, ocorre a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), criando uma nova forma de pensamento – tanto para os Estados, quanto para a sociedade: a de que o problema ambiental existe e que era preciso agir.
É em 1987, com o relatório “Nosso Futuro Comum” (também conhecido como “Relatório Brundtland”), resultado do trabalho da Comissão Mundial da ONU sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que se consolida a noção de Desenvolvimento Sustentável como aquele “que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
O conceito de desenvolvimento sustentável pressupõe que o crescimento econômico observe, obrigatoriamente, as necessidades e aspirações humanas, presentes e futuras, em relação aos sistemas sociais, econômicos e ecológicos. Passados mais de 30 anos do Relatório Brundtland, o desenvolvimento sustentável é paradigma estabelecido e irreversível, presente no discurso e na prática de organizações, empresas, estados, sociedades, no âmbito local ao global.
A ideia de sustentabilidade deve ser intrínseca a qualquer noção de desenvolvimento econômico, compreendendo, entre outros elementos, o fortalecimento da capacidade de resiliência dos sistemas ecológicos – garantindo a manutenção dos recursos naturais indispensáveis à economia e à sobrevivência, hoje e no futuro –, a equidade social na repartição dos benefícios, o respeito ao escopo territorial e regional, a manutenção do patrimônio cultural, entre muitos outros fatores relevantes.
Não por acaso, a consultoria da Roland Berger traz o desenvolvimento sustentável como uma das megatendências. A pauta da sustentabilidade tem emergido nos grandes bancos de desenvolvimento – atores fundamentais para financiar o setor público e privado para a consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São exemplos o KfW – um dos doadores do Fundo Amazônia, China Development Bank, Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Este também é o caso do BNDES – um dos principais financiadores do desenvolvimento sustentável no país – em seu escopo mais amplo: possui política socioambiental consolidada; apoia projetos de saneamento, gestão de resíduos, geração de energia renovável e promoção da eficiência energética, restauração florestal e inclusão social; sendo também gestor da parte reembolsável do Fundo Clima e do Fundo Amazônia, para o qual captou doações internacionais da ordem de US$ 1,2 bilhão, que são destinadas a ações de conservação florestal, produção sustentável e combate ao desmatamento.
Em momento de reposicionamento estratégico e ressignificação do papel do Banco, onde se faz presente a importância de transformação, é necessário que o BNDES construa e consolide sua identidade como o Banco do Desenvolvimento Sustentável do Brasil, não só como estratégia de melhoria da qualidade de vida e de manutenção de recursos para a economia no futuro, mas também como vantagem competitiva e diferenciação, permitindo aumentar sua inserção global. Isto é particularmente relevante ao ter em conta o foco no cliente, uma vez que sociedade e mercados, principalmente ao considerar o escopo global, cada vez mais demandam práticas sustentáveis.
O consumidor dos mercados globais se torna cada vez mais exigente, sendo a componente ambiental uma variável relevante para a inserção de nossos produtos agrícolas nesse mercado. Não é mero acaso que já exista, por exemplo, um pacto setorial como a “moratória da soja”, em que associações de indústrias e de exportadores do ‘agrobusiness’ se comprometeram que a partir de 2006 não comercializariam nem financiariam a soja produzida em áreas desmatadas no Bioma Amazônia após essa data. Este arranjo institucional privado surgiu como resposta ao questionamento de grupos ambientalistas e de clientes que passaram a exigir a observância de princípios sustentáveis para o cultivo e a comercialização da soja.
As florestas são essenciais para o regime das chuvas. Um dos diferenciais do Brasil é o seu setor agropecuário, que se beneficia da abundância de boas terras e água, tendo se consolidado como grande gerador de riquezas para o país, com grande peso em nossa pauta de exportações.
Segundo estudos, boa parte da chuva que se precipita no Sul/Sudeste/Centro-Oeste resulta de umidade trazida por correntes aéreas que vêm da Amazônia. E a floresta funciona como uma grande bomba hidráulica pelo fenômeno chamado de evapotranspiração, que lança na atmosfera a umidade que os chamados “rios voadores” trazem para beneficiar as regiões mais ao sul.
Somente como provocação sugere-se imaginar um cenário em que não exista mais a floresta Amazônica. Isto é, qual seriam os impactos sobre nossa produção agrícola no centro-oeste, nos canaviais de São Paulo, nas plantações de soja do Paraná e do Rio Grande do Sul? E ainda, quais seriam as consequências para nossa matriz energética fortemente dependente do “combustível água”, que roda as hidrelétricas instaladas em bacias como as do Rio Tietê ou Paraná?
A conservação florestal e o fomento da sustentabilidade estão, portanto, intimamente relacionados (especialmente no caso do Brasil) com a redução dos riscos sistêmicos de nossa economia.
Para fortalecer a identificação do BNDES como vetor de inclusão social e sustentabilidade ambiental, são oportunidades o apoio a ações que promovam a mitigação das mudanças climáticas, a eficiência energética, a geração de energia renovável, a mitigação de impactos negativos das grandes obras, a universalização do saneamento, a alteração da matriz de transporte individualista para transporte público de massa, a ampliação do uso de modais mais eficientes para o transporte de carga, o aumento da produtividade agropecuária (sem desconsiderar aspectos relacionados à sua sustentabilidade, à qualidade e sanidade dos alimentos e ao bem-estar dos animais); e, por fim, o reconhecimento das florestas e sua biodiversidade como ativos em biotecnologia, geração de renda e serviços ecossistêmicos essenciais.