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Cidades que Matam em Silêncio: A Crise da Poluição do Ar, por João Picanço

Uma Urgência Invisível nas Cidades

                                                                                   João Picanço[1]

Ao longo das últimas décadas, o saneamento básico tem se consolidado como uma das políticas públicas mais eficazes na promoção da saúde e na redução de gastos com tratamentos médicos. Investimentos em redes de esgoto, abastecimento de água e manejo de resíduos sólidos demonstraram, com dados concretos, que prevenir é não apenas mais humano, mas também mais econômico.

No entanto, há um aspecto essencial da saúde pública que ainda recebe atenção insuficiente: a qualidade do ar. A poluição atmosférica, especialmente nos centros urbanos, é responsável por milhões de mortes prematuras todos os anos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 6,7 milhões de pessoas morreram em 2019 devido à exposição à poluição do ar. Além disso, estudos indicam que a poluição do ar reduz a expectativa de vida global média em mais de dois anos, sendo uma das principais ameaças ambientais à saúde humana.

No Brasil, a situação é igualmente alarmante. De acordo com o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), a poluição do ar foi responsável por cerca de 49 mil mortes prematuras no país em 2019. O professor Paulo Saldiva, médico patologista da USP e referência em estudos sobre poluição atmosférica, afirma que a poluição do ar reduz em até 3 anos a expectativa de vida dos moradores da cidade de São Paulo.

Esse dado é resultado de décadas de pesquisa sobre os efeitos da poluição na saúde humana. Além disso, Saldiva alerta que viver em São Paulo expõe uma pessoa a níveis de poluição comparáveis a fumar de 4 a 5 cigarros por dia, mesmo sem ser fumante. A comparação é chocante, mas necessária para traduzir em termos simples o impacto devastador da poluição sobre a saúde. Afinal, saúde pública se faz com prevenção — e isso inclui garantir que cada respiração não seja, aos poucos, um risco à vida.

Nesse cenário ameaçador o que podemos fazer para melhorar?

Bogotá, na Colômbia, tem se destacado como um exemplo inspirador na luta contra a poluição do ar. A cidade adotou uma série de medidas ousadas e eficazes, como o incentivo ao uso massivo de BRTs e bicicletas. Um dos marcos mais relevantes foi a implementação do sistema TransMilenio (BRT), que resultou em uma redução estimada de 578 mil toneladas de CO₂ por ano entre 2013 e 2019 — o equivalente às emissões de cerca de 123 mil carros. Até 2010, a cidade já havia alcançado uma redução de 40% nas emissões de poluentes atmosféricos.

Além disso, Bogotá tem investido fortemente na transição para ônibus elétricos, com a ambiciosa meta de se tornar a cidade com a maior frota elétrica da América Latina. Segundo estudo do WRI, essa iniciativa pode salvar até 80 vidas e evitar quase 3 mil hospitalizações nos próximos 30 anos. A cidade também vem ampliando sua malha cicloviária, criando zonas de ar limpo e restringindo o tráfego de veículos particulares.

Essas ações mostram que promover a mobilidade urbana sustentável é uma das estratégias mais eficazes para melhorar a qualidade do ar e a saúde pública. Assim como o saneamento básico, a mobilidade urbana oferece retorno direto em qualidade de vida e economia de recursos públicos. A diferença é que, no caso da poluição do ar, os efeitos são muitas vezes silenciosos, cumulativos — e, por isso mesmo, urgentes.


[1] João Picanço é engenheiro do BNDES e mestre em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento (UFRJ).
A opinião do autor não reflete necessariamente as opiniões do BNDES.

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