Personalidade da vida pública carioca e brasileira, Saturnino pertenceu aos quadros do BNDES
VÍNCULO 1614 – Morreu nesta quinta-feira (3), aos 93 anos, o ex-prefeito do Rio de Janeiro e ex-senador da República, Roberto Saturnino Braga. Ele estava internado em um hospital no Rio de Janeiro com pneumonia.
Engenheiro formado pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ) em 1954, Saturnino Braga trabalhou no BNDES, tendo sido aprovado no primeiro concurso público realizado pelo órgão, em 1956.
Em 2011, Saturnino foi homenageado no Clube de Engenharia pela passagem dos seus 80 anos. Muito emocionado, ele falou de seu trabalho no BNDES em dois grandes momentos: no princípio da atuação do Banco e, mais tarde, quando o órgão se tornou o maior banco de fomento do mundo.
“Um espanto! O Plano de Metas do JK incorporou de uma forma mais prática as ideias discutidas no Iseb [Instituto Superior de Estudos Brasileiros]. Foi gente ligada essencialmente ao BNDES que concretizou aquela fórmula teórica, que era o Plano de Metas. Brasília não estava na cabeça de ninguém, nem do Iseb, nem do Cepal, nem do BNDES. Ninguém cogitava mudar a capital para lá. O Juscelino marcou o seu governo com esse investimento. Na época, foi muito criticado, inclusive, dentro do BNDES. A gente não entendia muito bem, achávamos que era mais um negócio político do Juscelino. Não acreditávamos que iria dar em grande coisa. Hoje, eu vejo, quando viajo por Mato Grosso, norte de Goiás, Tocantins e Pará, o crescimento daquela região; é um espanto! Nenhum dos formuladores teóricos captou aquela possibilidade, só o Juscelino”, falou Saturnino Braga, engenheiro, em depoimento em 2002, quando o BNDES completou 50 anos.
No almoço no Clube de Engenharia, Saturnino também lembrou a época mais difícil de sua carreira política. “De toda a minha vida política, a minha passagem pela prefeitura do Rio foi sem dúvida o que mais me marcou. Enfrentamos problemas sérios quando o governo federal cortou nossas verbas, principalmente devido ao tamanho da rede escolar e hospitalar da cidade que havia sido a capital (do país). Em dado momento, ficou inviável governar. Apesar disso, lembro com carinho da experiência pioneira por nós implantada de gestão participativa da cidade, da construção dos 12 polos de ciência e tecnologia, da criação das secretarias de cultura e transportes. Fiquei com fama de ‘o homem que faliu o Rio’. Paciência. A política é assim mesmo. Na época, deixei a prefeitura em depressão e foi aí que descobri meu amor pela literatura. Valeu a pena”, destacou. Saturnino teve 23 livros publicados entre contos, memórias e a própria história como político. Em todas as obras, o cenário é a cidade do Rio de Janeiro.
Saturnino era filho do ex-deputado federal Francisco Saturnino Braga e neto do ex-deputado federal Ramiro Saturnino Braga. Vindo de uma família de políticos, ele iniciou a carreira em 1963 como deputado federal. Em 1966, a sua candidatura à reeleição foi impugnada pela Ditadura Militar. Na década seguinte, filiou-se ao MDB e voltou a se candidatar e foi senador pelo Rio de Janeiro de 1975 a 1985.
Em 1986 foi eleito prefeito do Rio de Janeiro pelo PDT, o primeiro eleito pelo voto direto na história da cidade com mais de 40% dos votos. Desentendimentos com Leonel Brizola o levaram a romper com o partido e se filiar ao PSB.
Durante o governo municipal, o Banco Central proibiu a prefeitura de contrair novos empréstimos e Saturnino declarou a falência do município. Ele deixou o cargo em 1988.
Quatro anos depois, voltou à política como vereador na cidade do Rio. Atuou na Câmara Municipal até 1996, quando assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Niterói.
“A política é a mais nobre das ocupações do ser humano porque é exatamente a ocupação em cuidar dos destinos de todos da coletividade da nação. Então é a ocupação, a meu juízo, mais nobre. É claro que acaba se transformando em coisa muito feia. Mas a atividade em si, a política, é atividade muito nobre. Não abriria a mão dela depois que entrei”, disse Saturnino em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, em 2016.
Viúvo, Roberto Saturnino Braga deixa três filhos, Adelia, Bruno e Antonio Frederico.
► Repercussão
Presidente Lula
Em suas redes sociais, o presidente Lula manifestou suas condolências ao ex-prefeito do Rio: “Hoje também nos despedimos do grande político e companheiro Roberto Saturnino Braga. Primeiro prefeito do Rio de Janeiro eleito democraticamente após a ditadura, Saturnino foi um grande defensor da democracia e atuante na vida pública do Brasil e do Rio de Janeiro, onde exerceu os cargos de prefeito, vereador, deputado, senador da República e secretário de Desenvolvimento Econômico de Niterói, sempre militando pelas causas populares”.
“Além da sua trajetória política, Saturnino também foi engenheiro e escritor, tendo recebido o Prêmio Malba Tahan, da Academia Carioca de Letras, pelo livro Contos do Rio. Meus sentimentos aos seus três filhos, Adélia, Bruno e Antonio Frederico, amigos, companheiros e admiradores de sua grande e honrada trajetória política”.
Prefeito Eduardo Paes
Em uma rede social, o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou que Saturnino Braga foi um dos homens “mais dedicados e corretos” da política carioca.
“Saturnino Braga foi um dos mais dedicados e corretos homens públicos que a cidade do Rio de Janeiro já conheceu. Sua história em defesa da democracia, da liberdade e do povo mais pobre será sempre lembrada. É uma grande perda para a cidade do Rio de Janeiro e para o Brasil. Meus sinceros agradecimentos por toda sua dedicação à nossa cidade. Que Deus possa confortar o coração de sua família e de seus amigos”.
Câmara Municipal
A Câmara de Vereadores do Rio divulgou uma nota de pesar:
“A Câmara Municipal do Rio de Janeiro se solidariza com os familiares e amigos de Roberto Saturnino Braga e lamenta o falecimento do ex-prefeito. Um político que entrou para a história por sua luta pela democracia, Saturnino foi o primeiro prefeito eleito de forma direta, após a redemocratização. Um gestor atuante, e sempre a favor dos que mais precisavam.
A Câmara de Vereadores teve a honra de contar com Saturnino Braga entre os seus parlamentes entre 1994 e 1995, quando cumpriu seu mandato com responsabilidade e caráter público.
A Câmara do Rio celebra o legado deixado por ele para todos os vereadores da Casa Legislativa: a missão de fazer políticas públicas para todos cariocas de forma democrática e justa.”
Governador Cláudio Castro
“A política brasileira perde hoje Saturnino Braga, ex-prefeito do Rio, um expressivo e atuante representante do povo. Durante sua brilhante trajetória, foi o primeiro prefeito eleito de forma direta, após a redemocratização, em 1985. Exerceu com coragem e afinco seus mandatos, sempre defendendo os interesses da população brasileira. À família, aos amigos e admiradores, manifesto meus sentimentos e solidariedade por essa perda. O Governo do Estado decreta luto de três dias por essa perda insubstituível.”
Presidente do BNDES
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que recebeu a notícia da morte do amigo com muita tristeza: “Amigo com longa trajetória na política e de contribuições para o desenvolvimento do país, Saturnino foi vereador, deputado federal e três vezes senador, sendo que em um dos mandatos exercemos no mesmo período, pela bancada do PT. Neste momento de tristeza, envio meu abraço aos familiares, aos amigos, aos companheiros de militância e aos admiradores deste grande brasileiro”, ressaltou.
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