VÍNCULO 1122 –“Pense antes de tomar qualquer atitude importante”. Esse era o conselho contido no Horóscopo do dia 14 de julho de 1954 (uma quarta-feira), na coluna de variedades do jornal Última Hora, aos nascidos em Câncer (21/6 a 21/7). Já viu a responsabilidade do primeiro presidente da AFBNDE?
Para os gulosos, o mesmo jornal oferecia receitas de dar água na boca: lombo de porco; assado com creme; pudim de pão com recheio de maçãs. Delícia, não? Deliciosa também era a programação cultural do Correio da Manhã: Nelson Gonçalves (“o cantor da atualidade”) era apresentado por Linda Baptista no Plaza Copacabana Hotel. Consuelo Leandro e Angelita Martinez faziam sucesso em “Sua Majestade O Amor” (Revista Moderna, de J. Maia e Max Nunes), na boate Night and Day. O saudoso Grande Otelo fazia das suas no Teatro Jardel, com “Esta vida é um Carnaval” e Dercy Gonçalves arrancava gargalhadas no Teatro Dulcina, com a peça “Uma Certa Viúva”.
Outra viúva, a “Alegre”, era anunciada com destaque no Metro, trazendo à frente Lana Turner e Fernando Lamas. No Palácio, Richard Burton e Victor Mature, em cinemascope, arrastavam multidões para ver “O Manto Sagrado” (“The Robe”). E no Cine Odeon, o futuro (quem diria?) presidente dos EUA, Ronald Reagan – numa dobradinha com Doroty Malone – arrepiava com “Duelo de Morte”.
Ladrões florais
Enquanto no Rio de hoje (*) o total de mortes por assassinato é maior que o de vítimas fatais no trânsito, em 14 de julho de 1954 o Jornal do Brasil noticiava que o bairro de Santa Teresa estava sendo “visitado” por um bando de apreciadores de plantas e flores – recebendo o apelido de “ladrões florais”. No mesmo dia, o Correio da Manhã noticiava a prisão de um punguista numa churrascaria, quando portava uma carteira funcional da guarda civil. Segundo o diário, o malandro começara essa atividade quando tinha 15 anos “e tomou gosto pelo ofício”.
Em dias como os nossos, em que a PM monta operação de guerra nos túneis da cidade para impedir desavergonhados assaltos à mão armada, soa inocente o pedido que o chefe de polícia do Rio fazia à população, por intermédio da Última Hora. “Tragam-nos para que eles sejam ades-trados convenientemente para a segurança de todos” – referindo-se a cães amestrados que seriam utilizados no policiamento da cidade.
Indochina
Era uma época difícil na Europa e na Ásia. Período em que se discutia acordo anglo-americano para conceder soberania à Alemanha Ocidental (a Segunda Guerra havia terminado há menos de dez anos); em que se debatia a “guerra biológica”; em que a França comemorava a queda da Bastilha e via morrer mais de 90 mil homens na Guerra da Indochina, que libertaria o Vietnã e faria desmoronar um dos pilares do colonialismo francês. Estas eram notícias do dia 14, assim como o baile no Clube dos Embaixadores, homenageando a colônia francesa residente no Rio de Janeiro pela data festiva (?).
Já o Brasil – vivendo a véspera da grande crise nacional que levaria ao suicídio o presidente Getúlio Vargas – embarcava na “guerra fria”. No Senado Federal, localizado no Palácio Monroe (demolido mais tarde), denunciava-se o “namoro” de Vargas com o comunismo. A Última Hora noticiava a libertação da “jovem comunista” Raquel Lobo, presa havia cerca de uma semana depois de estar com prisão preventiva decretada no processo cujo principal acusado era Luís Carlos Prestes. Enquanto isso, o Ibope denunciava fraudes eleitorais nas eleições de 1950.
Não podiam faltar, é claro, notícias de interesse dos trabalhadores, num momento de grandes protestos populares: “Empregados e patrões traçam os rumos da previdência”; “Pleiteará maiores salários o Sindicato dos Chapeleiros”; “Greve do pessoal do Lloyde Brasileiro. Vários navios paralisados no porto”; “Exclusão do Brasil do Conselho Permanente da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para possibilitar ingresso da Rússia” etc.
Classificados
Em 14 de julho de 1954 podia-se comprar um terreno “à margem da mais linda praia, em frente à Copacabana. Muita gente construindo e morando no local… Preço a partir de Cr$ 18.000,00, entrada de Cr$ 300,00 sem juros”. Ou um Chevrolet 1949: “Vendo por ter recebido um carro novo, 4 portas, preto”. Podia-se percorrer outros anúncios nas páginas dos jornais: “Refrigerador Frigidaire – na residência moderna ou tradicional”; “Colchões de Mola Drago – feito na medida certa para a sua cama”. “Magnésia S Pelegrino – purgante, refrescante, antiácida”; “Casa José Silva – o cartão de visita do homem elegante”. Etc. etc. etc.
Futebol
Após ter sido eliminado pela Hungria de Puskas na Copa de 54, disputada na Suíça, o futebol brasileiro – o carioca em particular – tentava reagir: o Vasco da Gama e o Botafogo se preparavam para um torneio na Colômbia. O Flamengo (campeão em 53) e o Fluminense treinavam para o triangular que seria disputado com o La Coruña, no Maracanã. Era época de Evaristo, Esquerdinha, Zagalo, Vavá, Sabará, Barbosa, Bellini, Castilho, Pinheiro, Didi, Nilton Santos e tantos outros craques da nossa história.
14 de julho de 1954 era dia de saber o resultado da primeira apuração do concurso “A artista mais elegante do Brasil”, idealizado pela Revista FonFon. Em 1º lugar estava Agnes Fontoura (cinema); em 2º, Marlene (rádio e teatro); e em 3º, Emilinha Borba (rádio). Era dia de noticiar o “Drama conjugal do Trio de Ouro”, que aconteceria na 3ª Vara de Família, com a separação de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira. Era Dia de São Camilo de Lellis – que até hoje nos guarda.
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(*) Texto de autoria de Washington Santos, publicado orinalmente no VÍNCULO 213, de 14 de julho de 1994, quando a AF completava 40 anos.