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Os 10 anos das Jornadas de Junho

“Protestos de 2013 marcaram a política e ainda são um enigma de interpretações diversas”, diz O Globo em reportagem especial. “Antipolítica marca ciclo que liga protestos de 2013 a 8 de janeiro”, vê a Folha, que traz debate sobre semelhanças e diferenças dos dois eventos históricos

Manifestação na Candelária, em junho de 2013, foi organizada pelo movimento Passe Livre. O objetivo era barrar o aumento da passagem do transporte público Fotos: Washington Santos

“Em junho de 2013, a cidade de São Paulo foi abalada por uma série de protestos que em pouco tempo se espalhou por todo o Brasil. Organizada inicialmente pelo Movimento Passe Livre com o objetivo de barrar o aumento da passagem do transporte público, a série de manifestações foi acompanhada de uma massiva repressão policial, que ajudou a fomentar o caldo que iria desembocar numa reapropriação das reivindicações por diferentes grupos ideológicos e setores da sociedade brasileira. De uma mudança de discurso oportunista da mídia à ocupação por grupos reacionários expulsando das manifestações segmentos identificados com a esquerda, as Jornadas de Junho de 2013 abalaram as estruturas políticas e sociais do país, servindo como epilogo de uma crise política que parece não chegar ao fim”.

Assim é apresentado o filme “Junho – O Mês que Abalou o Brasil” (2014), produzido pela Folha de S. Paulo e dirigido pelo  fotógrafo João Wainer, usando imagens colhidas pela equipe de reportagem do “TV Folha” durante as semanas de manifestações em São Paulo, Rio, Brasília e outras cidades brasileiras em junho de 2013.

Reportagens – Dez anos depois de 2013, a Folha de S. Paulo e O Globo trazem as “Jornadas de Junho” de volta em séries de reportagens especiais iniciadas no último dia 4, que seguirão sendo publicadas nos dois jornais até o final do mês, sempre aos domingos.

Na primeira matéria da série, de autoria do jornalista Uirá Machado, Folha faz um contraponto com fatos políticos recentes: “Antipolítica marca ciclo que liga protestos de 2013 a 8 de janeiro – Especialistas debatem semelhanças e diferenças entre os dois eventos históricos separados por quase dez anos”.

“Junho de 2013 foi o momento em que se abriram no Brasil as comportas da antipolítica no sentido mais forte”, destaca, na matéria, o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da FGV-SP. “Surgiram, no bojo daquele processo, grupos que encarnaram uma pauta conservadora – não é nem conservadora, é reacionária, porque defende até aspectos pré-civilizatórios”, diz Rosemary Segurado, professora de Ciências Sociais da PUC-SP.

“Em junho, havia uma demanda para democratizar a democracia, para aprofundar os valores da Constituição de 1988. No caso dos patriotas, as pessoas se mobilizam para subverter, abolir a Constituição, num sentimento de nostalgia da ditadura”, compara o cientista social Jonas Marcondes Surubi de Medeiros, pesquisador do Cebrap. “Em junho, não se falava em tomar o poder propriamente dito, ninguém tinha discurso golpista”, ressalta a socióloga Angela Alonso, professora da USP e pesquisadora do Cebrap.

O Globo, em 4 de junho, publicou matéria intitulada “A Jornada que atravessou uma década”, enumerando as pautas difusas da época: “Tarifa Zero”, “Não vai ter Copa”, “Não é só pelos 20 centavos”, “Não à PEC 37”, “Fim da PM”, “Saúde e educação padrão Fifa”, “Fora Dilma”. Dez anos depois, diz a matéria assinada por Jan Niklas e Marlen Couto, as Jornadas de Junho de 2023 seguem como um enigma que desafia intelectuais.

“Em junho há uma concomitância desses protestos, eles ocorrem em simultaneidade. Parecia um protesto só, mas era um mosaico com várias pecinhas de atores organizados fazendo política”, analisa a socióloga Angela Alonso. Nas Jornadas de Junho, grupos usaram o Facebook para articular os atos. A ferramenta “eventos” permitia aos usuários “confirmar presença” nas manifestações, aumentando a mobilização do público. Segundo a socióloga Esther Solano, essa lógica das redes transbordou para a própria dinâmica das ruas: “Isso é uma forma nova para se entender a política em simbiose com a dinâmica horizontal das redes. É um engajamento mais espontâneo que parte muito mais do indivíduo do que simplesmente de uma liderança”, avalia.

“A ‘republicanização’ da democracia era o sentido último dos protestos de junho. Sintetiza tanto as reivindicações sociais, principalmente do transporte público e outros serviços, quanto a questão do deslocamento representativo: a crítica à corrupção”, analisa Julio Lopes, pesquisador da Casa Rio Barbosa. Segundo a professora da UFMG, Heloisa Starling, em 2013 “aumentou a fervura” de um caldo ideológico que encaminhou o Brasil para uma cizânia social em torno de preferências políticas. Assim, as pessoas começaram a se aglutinar cada vez mais em campos opostos. “O 2013 mostra um Brasil vital que quer mais democracia, mas também o Brasil autoritário, contra cotas, contra novos agentes de sexualidade e gênero, mostrando as heranças históricas da escravidão, mandonismo, patrimonialismo e intolerância”, resume a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz.

Livros, séries e filmes para entender melhor as Jornadas de Junho

► “Treze – A Política de Rua de Lula a Dilma”, Cia das Letras, Angela Alonso.

► “A razão dos centavos – Crise urbana, vida democrática e as revoltas de 2013”, Zahar, Roberto Andrés.

► “Viver em rede”, 7 Letras, Julio Lopes.

► “Operação Impeachment”, Todavia, Fernando Limongi.

► “Jornadas de junho – a revolta popular em debate”, ICP, vários autores.

► “Junho 2013 – O Começo do Avesso“, série dirigida e idealizada pelo jornalista e documentarista Paulo Markun e pela socióloga Angela Alonso.

► “Ecos de Junho”, série dirigida e idealizada pelo jornalista e documentarista Paulo Markun e pela socióloga Angela Alonso.

► “Nem vertical Nem horizontal”, Ubuntu, Rodrigo Nunes.

► “The Bolsonaro Paradox”, Springer, Jonas Marcondes Surubi de Medeiros.

► “Junho – O Mês que Abalou o Brasil” (2014), produzido pela Folha de S. Paulo e dirigido pelo  fotógrafo João Wainer.

► “As Jornadas de Junho de 2013”, Vice Brasil.

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