Arthur Koblitz – Economista, Presidente da AFBNDES
Vínculo 1456 – Antônio Barros de Castro foi presidente do BNDES por um breve período, durante o governo Itamar Franco, diretor de planejamento e, depois, assessor, por um tempo bem mais longo, durante a gestão de Luciano Coutinho.
A importância de Castro para o desenvolvimento brasileiro, entretanto, é muito maior do que as posições que assumiu no BNDES.
Castro, junto com Maria Conceição Tavares e Carlos Lessa, foi um dos mais brilhantes alunos de Celso Furtado e um continuador das preocupações e abordagens para o desenvolvimento econômico trazidas pelo grande economista e pensador brasileiro.
A amplitude da curiosidade intelectual de Castro é impressionante. Vai da história econômica do Brasil no século XVII, tema da sua tese de doutorado, à sua participação nos grupos de estudos liderados pelo grande filósofo da Ciência, Karl Popper, em sua estadia na Inglaterra, passando por ensaios sobre Teoria Econômica. A partir do período da crise inflacionária brasileira, Castro se dedicou ao estudo da conjuntura econômica, organizando o grupo que duraria muitos anos na UFRJ.
As contribuições mais conhecidas de Castro estão nas suas grandes interpretações de episódios da história econômica brasileira e na análise de problemas estruturais brasileiros, bem na linha temática do mestre Furtado.
O livro de Castro em coautoria com Francisco Eduardo Pires, “A Economia Brasileira em Marcha Forçada”, nasceu clássico. Teve grande impacto quando foi lançado – um economista progressista, inimigo da ditadura, escreve um livro explicitando a lógica e defendendo a ação econômica do governo militar, o 2º PND do governo Geisel, se contrapondo à interpretação condenatória predominante de seus colegas. O economista Albert Hirschman, posteriormente, em um dos seus últimos ensaios sobre a América Latina, reconheceria a importância da tese defendida por Castro.
Economistas estrangeiros destacados que se interessam pela história econômica brasileira, como o italiano Giovani Dosi e o argentino Roberto Frankel, continuam a destacar o incrível salto brasileiro na segunda metade dos anos 1970. Foi a resposta específica brasileira à crise do petróleo. Em contraste, a literatura ultraliberal que prevalece no Brasil tem demonizado a ação econômica promovida no período Geisel.
“Economia Brasileira em Marcha Forçada” continua sendo relevante para nossos dias. O 2º PND marca uma arrancada fundamental da economia brasileira que teve participação central do BNDES. O livro continua sendo fonte fundamental para entender um período que continua presente no debate contemporâneo sobre o Brasil e os rumos do desenvolvimento.
O reconhecimento da importância estrutural da ação de um governo que ele certamente abominava é testemunho e exemplo modelar de engajamento científico.
No seminário realizado esta semana falou-se muito do caráter provocador dos escritos de Castro. Minha impressão formada durante os dois cursos que assisti dele e do que já li do seu trabalho é que esse caráter provocador era fruto não de uma vontade de contrariar, de ser polêmico, mas de uma grande independência intelectual e de uma fome por novos insights, por novas sacadas que permitissem a ele entender o que não tinha vergonha de dizer que ainda não tinha entendido. A excelente apresentação que Lavínia – sua filha e minha amiga, com quem estive nos dois cursos que assisti de Castro na UFRJ – fez no seminário, usando como referência um texto inédito do pai, é especialmente relevante para mostrar esse lado de Castro.
No meu entender, essa é a essência de uma postura científica, ao contrário de uma escolástica. Fazer ciência é correr riscos, é assumir hipóteses que podem ser contrariadas (olha a influência do Popper!). Castro era um intelectual mais preocupado em avançar sobre o que ainda não tinha entendido, do que ficar no conforto da divulgação do que já havia consolidado. Refletindo essa disposição intelectual, seus cursos, pelo menos os que assisti, alternavam entre experimentos para avançar seu próprio conhecimento, para extrair novos insights em discussão com os alunos, a palestras sobre assuntos já dominados. Nesse segundo tipo de aula, ficavam transparentes a quantidade de reflexão que havia sido devotada sobre aquele tópico e o padrão que ele exigia de si mesmo para dizer que um assunto estava digerido. Brilhante é o único adjetivo apropriado para descrevê-las.
A semana em sua homenagem foi uma grande oportunidade para entrar em contato e/ou debater a obra de Castro.
“Semana Dez Anos sem Antônio Barros de Castro” no canal do IE/UFRJ no YouTube
Mesa 1 – Panorama da obra de Antonio Barros de Castro
Clique aqui.
Mesa 2 – Política Industrial e Inovação
Clique aqui.
Mesa 3 – O Mundo Sinocêntrico
Clique aqui.
Promoção: Ibmec, em parceria com o Instituto de Economia da UFRJ.
Organização: Ana Beatriz Moraes (Ibmec) e Lavinia Barros de Castro (Ibmec).