VÍNCULO 1395 – A AFBNDES apoia todos os movimentos e manifestos pelo afastamento do presidente da República. Não importa agora em quem as pessoas votaram para a presidência, se foram a favor do impeachment ou contra o “golpe”, se defenderam Sérgio Moro e a Lava Jato e se arrependeram, se ainda os defendem ou não. Se consideram o PT “o partido mais corrupto do mundo”, ou se consideram o presidente Lula “o maior presidente de todos os tempos”. Se são favoráveis ou contra as reformas do Paulo Guedes, se são neoliberais, ou desenvolvimentistas (A diretoria da AFBNDES é contra as reformas e desenvolvimentista, mas essa é outra questão).
Pois o que importa agora é afastar o presidente pelos vários crimes de responsabilidade que cometeu; ou seja, defendemos um afastamento dentro da lei. Um presidente que conspira contra a democracia, age contra a saúde e a vida dos brasileiros; e interfere nas instituições da República para evitar investigações baseadas em indícios de conexões abomináveis – dele próprio e de seus familiares – com milícias e redes de difusão de mentira, calúnia e difamação.
(‘Negacionistas’ que eventualmente existam no BNDES, por favor, abram seus olhos! O que significam as medidas que o governo provocativamente promove para facilitar o acesso a armamentos, o apoio à radicalização de seus apoiadores em torno de bandeiras abertamente antidemocráticas e a adoção de palavras de ordem e símbolos fascistas por membros do governo?)
Os que apesar de tudo insistem em defender o presidente, não deveriam ignorar que o BNDES permanecerá como um dos alvos privilegiados do movimento por ele representado. As operações de comércio exterior financiadas pelo Banco são especialmente importantes para a narrativa desse movimento. A conexão é simples. O anticomunismo, de matiz particularmente lunática, que orienta o guru conspiratório do presidente precisa alimentar o risível mito sobre o Foro de São Paulo – e a principal “evidência” que dá “substância” ao mito são as operações de financiamento realizadas pelo Banco aos países “aliados à China” na conspiração comunista internacional. Pressionados para explicar as corrupções e vigarices concretas da família com Queiroz, é a isso que recorrem os loucos: a teorias da conspiração como essa. Do mesmo modo que respondem ao assassinato concretamente planejado da vereadora Marielle Franco com a teoria da conspiração sobre a facada no presidente (“Quem está por trás do Adélio?”).
É trama de história em quadrinhos, mas narrativas desse nível já se mostraram capazes de influenciar efetivamente pessoas inteligentes. Quantos não votaram nas últimas eleições (primeiro e segundo turnos) influenciados por alucinações como o “Decálogo de Lenin” e etc.? A radicalização do movimento fascista pilotado por Bolsonaro exige o apelo a essas fantasias. Na Polônia, onde também governa a extrema direita, a adesão ou não a teorias da conspiração define se uma pessoa é ou não aliada do governo. E ser ou não aliada tem consequências relevantes para as suas vidas (ver artigo de Anne Applebaum, “O Pior está por vir”, Revista Piauí, nº 146).
Não tenham dúvida que esse será o destino do Brasil caso vença o movimento pilotado pelo presidente.
Não deve importar também a opinião sobre o vice-presidente Hamilton Mourão. O general reformado – depois de se apresentar como moderado em contraste com Bolsonaro – tem revelado em manifestações públicas (artigos em jornais de grande circulação) que compartilha da mesma visão autoritária do presidente. Mesmo assim, que venha Mourão, o que não pode continuar é o desastre civilizacional conduzido por Bolsonaro.
Se pudéssemos escolher nessa conjuntura, defenderíamos não apenas uma condução racional para lidar com a pandemia do coronavírus, mas uma revisão fundamental das prioridades da orientação econômica. É um absurdo tomar conhecimento de que o BNDES busca captação no exterior depois de liquidar os recursos que tinha até há pouco mobilizado para financiar o investimento no Brasil. É um escândalo falar em continuar a vender ações da BNDESPar na atual conjuntura. Felizmente, é razoável esperar que a saída de Bolsonaro seja o fim da condução econômica desastrosa de Paulo Guedes. Totalmente isolado, o ministro depende hoje, como nunca, do presidente para continuar no poder. Os sinais de desconforto dentro da própria equipe já foram apontados aqui em editorias passados.
A saída de Guedes e de sua equipe econômica é a única forma de interromper a lamentável orientação que prevalece no BNDES. O que pode ser dito de adicional sobre a atual diretoria e o círculo de apoiadores mais próximos? Vários adjetivos vêm à cabeça, mas o que é mais revelador é o grau de desconfiança e de temor que existe em torno dela. A demissão covarde, injusta, de Gustavo Soares sujou as mãos dessa diretoria e de todos que por ela foram responsáveis. Já apontam hoje, e apontarão no futuro com ainda mais veemência, para o presidente Montezano como único responsável. A verdade é que são todos responsáveis e os empregados do BNDES não esquecerão disso.
O país precisa do BNDES. Precisamos de uma diretoria que entenda isso e seja capaz de utilizar o Banco com esse objetivo.
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