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Os depoentes e os portões que não se deixam derrubar

VÍNCULO 1421 – (A segunda parte do relato sobre a negociação do ACT 2020, “O fim de uma negociação surreal”, fica para a próxima edição)

As Associações de Funcionários do Sistema BNDES apelaram aos empregados e a resposta veio. Na negociação do ACT 2018 foram encaminhadas aos Sindicatos de Bancários mais de 600 cartas em oposição ao pagamento da contribuição negocial. Desta vez foram apenas 132.  

Uma primeira evidência do erro estratégico da administração no ACT: tentaram dividir Associações e Sindicatos e o resultado foi o contrário – união inédita das entidades em defesa do BNDES e seu corpo funcional.

Tem gente que ainda não entendeu nada. 

Há quatro anos e meio os empregados do BNDES vêm passando por todo tipo de desafio – incluindo o questionamento de suas carreiras e do papel do Banco.  

Havia algumas visões alternativas sobre como responder a esse momento histórico.

Alguns diziam que esse processo era como fogaréu, como um incêndio na floresta. Tínhamos que nos resignar, esperar o fogo baixar. E isso era tudo.

Outros diziam – de forma consoante – que tínhamos perdido a batalha da opinião pública e precisávamos passivamente nos acomodar a qualquer administração que sinalizasse “gostar” do Banco.

Tivemos também os que passaram a endossar as críticas de fora quase que por completo num esforço de se reposicionarem nas novas administrações.  

Pois a atual diretoria da AFBNDES é produto de outra resposta. Somos a expressão política dos que entenderam que não era digno ficar de braços cruzados assistindo uma instituição da importância do Banco virar a “Geni nacional”. Sabíamos que o Banco não podia virar alvo de crítica superficial, desfocada e, muitas vezes, mal informada, mal intencionada e irresponsável, sem que seus empregados contassem sua versão da história.

Não há contradição entre essa atitude e a convicção de que o Banco precisa, é claro, ser analisado e criticado. Aonde necessário, criticado duramente. Mas percebemos que a campanha em curso era de destruição. E pior, promovida por gente que nunca ajudou o país, agentes do sistema financeiro, especuladores, rentistas que enriqueceram com taxa de juros por décadas entre as mais altas do mundo, bem como por seus intelectuais orgânicos.  

Não tínhamos a legitimidade da hierarquia da Casa. Mas contávamos com a estrutura de uma instituição rica em tradição, com alguma estrutura, mas que estava num momento grave de desorganização. Levantamos nossa voz em protesto e ela ecoou em uma parcela fundamental dos empregados do Banco, talvez os mais conectados com a instituição, os mais conscientes, ao mesmo tempo, da ameaça concreta que pairava sobre ela e da importância do BNDES para o Brasil. Disputamos as críticas que circulavam internamente, no Congresso, na mídia, na sociedade como um todo. Procuramos mostrar a fragilidade da crítica dominante ao BNDES.  

Em retrospecto, toda experiência até a gestão Montezano parece que foi apenas um treinamento para enfrentar a batalha de verdade. Só os que fecham os olhos e tapam os ouvidos podem dizer que não estão encolhendo, atrofiando o BNDES. O desmonte é explícito, mal disfarçado. Bem ao estilo do governo federal, os responsáveis pelas decisões mais importantes falam qualquer coisa. A escolha estratégica fundamental dos que sabem o que está sendo feito foi colocar à frente do processo pessoas que não têm a menor dimensão do que estão fazendo. Seguem algum chavão ou palavra de ordem do ministro Guedes e nada mais. 

Outro aspecto da batalha colocada pela atual administração foi a disposição de partir para o conflito com os técnicos do Banco. Executivos mais experientes e reconhecidos na Casa foram confrontados e destituídos. A AFBNDES levantou sua voz denunciando o desmonte, a falta de consistência, a falta de respeito aos empregados e até mesmo à institucionalidade do Banco – e a resposta veio com toda a força na negociação do último ACT.  

Tentaram nos liquidar, acabar com nossa organização associativa e com a proteção à autonomia técnica do corpo funcional. Será que já se deram conta do quanto fracassaram no seu intuito?  

Os empregados do BNDES não se intimidaram com ameaças. Os que foram alçados a altas posições na burocracia, recrutados estritamente por sua obediência, mostraram que não possuem liderança e não conhecem o sentimento dos empregados. A diretoria perdeu porque sofre de alienação profunda sobre a instituição que dirige. 

Compreende tão pouco a instituição e sua história que enxerga no orgulho de pertencimento ao BNDES – visto por estudiosos e outras diretorias como um sinal de força institucional –, apenas, para usar uma metáfora, mais um portão fechado a ser derrubado.  

Como o “ato falho” (expressão freudiana) revelado no vídeo do presidente Montezano mostrou, os empregados são vistos como “depoentes”, sujeitos cujas manifestações devem ser analisadas com distanciamento e suspeita pelo corpo dirigente da instituição.  

A resistência, a união e a mobilização que nos deram potência na negociação do ACT de 2020, as vitórias nas ações judiciais relacionadas à incorporação da gratificação de função e a reintegração de Gustavo “Madureira” aos quadros do Banco são apenas os primeiros triunfos dos funcionários organizados do BNDES no embate com essa administração.

Quem sabe os depoimentos recolhidos na pesquisa de clima levem à administração perceber o equívoco do caminho que resolveu seguir. Da nossa parte, como fizemos em todas as outras administrações do BNDES e da FAPES, estaremos sempre abertos ao diálogo franco e em prol do país e do BNDES.

Acordo da Participação nos Resultados

Fechamos com o Banco, na tarde desta sexta-feira (18), a proposta do Acordo da PLR. Um único ponto de divergência havia surgido. Na contramão da Convenção Coletiva Nacional dos Bancários, firmada com a Fenaban, a administração tentou introduzir uma regra que excluía empregados afastados por licença doença da obtenção da Participação nos Lucros ou Resultados. A regra apresentada na negociação deste ano estipulava uma escala de progressiva redução da porcentagem a ser recebida, dependendo da quantidade de dias de afastamento. A regra prevalecente em todos os outros bancos é a de que basta um dia de trabalho no ano de aferição da PLR para que o empregado tenha direito à sua integralidade.

Ora, depois de todo o discurso de seguir Fenaban, de fortalecer a atuação dos sindicatos nas negociações, a administração propõe regras que ninguém segue no mundo negocial bancário. Cadê a coerência dessa estratégia? 

Associações de Funcionários, Contraf e Sindicato dos Bancários se uniram na defesa da regra geral dos bancos, presente da Convenção Coletiva da categoria, e a administração do Sistema BNDES acabou recuando. Melhor assim. Convocamos todos a aprovar na próxima semana o Acordo.

Associação dos
Funcionários do BNDES

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