VÍNCULO 1305 – Você já deve ter ouvido o boato sobre a reestruturação em curso no BNDES. Soubemos na última segunda-feira e conversamos com a Diretoria e a Superintendência de RH na terça-feira pela manhã. Um resumo do que nos informaram é que de fato uma reestruturação está em fase avançada de elaboração, que ela consistirá num aumento no span mínimo gerencial, ou seja, número de subordinados por gerente, e que esse span mínimo variará nas áreas segundo o critério de grau de rotina das tarefas: áreas que contem com tarefas mais rotineiras, que demandam um foco de atenção menor dos gerentes, terão maior span. O span específico para cada área ainda não foi decidido, mas foi descartada enfaticamente qualquer coisa na dimensão que tem circulado pelos corredores. Também fomos informados que a principal razão da mudança é deslocar mais pessoal para as áreas operacionais.
Além do que nos foi diretamente informado nessa reunião, sabemos que há um grupo influente de executivos que entende que há de existir uma reposta dos funcionários de forma que o próximo governo não nos encontre perdidos, sem direção nessa conjuntura negativa. Façamos a reforma antes que outros a façam, é o mote. Sem esse componente é difícil entender as mudanças em marcha – planejamento estratégico, consultorias de RH e reestruturações –, que definitivamente são menos comandadas de fora, por Brasília, do que de dentro.
O que pensamos disso?
Em primeiro lugar, acreditamos que há potencialmente no Banco uma ampla maioria que entende que mudanças organizacionais são necessárias e que precisam ser postas em marcha, DESDE QUE sejam conduzidas de forma participativa. Afinal, se as mudanças forem a simples imposição de um determinado grupo de executivos, porque o resto deveria se importar se a reforma vem de fora ou de dentro? Que legitimidade haveria para considerá-las como “propostas da instituição”?
Em segundo lugar, a proposta da Diretoria precisa ser apresentada ao conjunto dos funcionários – e aberta ao debate. O mesmo deve ocorrer dentro de cada área. O debate ajudaria a reestruturação, pelas seguintes razões:
Para começar, exigiria que ela esteja baseada num diagnóstico bem estabelecido. Entre as várias questões que precisam ficar mais claras, é fato que existe um desbalanceamento entre área operacional e área meio? Se isso é fato, como exatamente a reestruturação resolve o problema da falta de pessoal na área operacional?
Inibiria, também, a adoção de critérios não legítimos. A contratação de consultorias externas em si não deveria ser considerada como medida suficiente para garantir a legitimidade de mudanças organizacionais no Banco. Seu papel é apresentar diagnósticos sólidos, capazes de fundamentar decisões cruciais, como o são medidas que têm alto impacto sobre a vida das pessoas. Sem legitimidade, a reestruturação adicionará à pressão de órgãos de controle, à sabotagem da TLP, à pressão da opinião pública, a destruição do clima organizacional. Em particular, é vital que a preservação de cargos visivelmente reflita a percepção de quem são as lideranças mais capazes, e não de quem são os mais associados ao grupo executivo mais influente.
Para os que estão convencidos do mérito das mudanças em curso e estão com recursos de poder a seu dispor, a tentação de implementar essas mudanças de qualquer forma, mesmo que impositivamente, deve ser grande. Lançamos o desafio, então: se são reformadores genuínos e estão preocupados com o futuro do Banco, deveriam entender que o nosso grande desafio não está numa mudança específica, mas na forma como mudanças devem ser realizadas internamente. Falar retoricamente da qualidade dos funcionários do BNDES até os carrascos falam; respeitar a qualidade dos funcionários na prática é outra história e é essa a única que nos interessa escutar.