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Evento de Planejamento

Paulo Moreira Franco – Economista do BNDES

You realize that life goes fast
It’s hard to make the good things last
You realize the sun doesn’t go down
It’s just an illusion caused by the world spinning round”
(“Do you realize” – Flaming Lips)

Vínculo 1304 – Quatro da tarde, oitavo andar do Ventura. Um sup, um diretor, um chefe, uma gerente, presidente e vice da Associação, uns gatos pingados de plateia. Pouca gente. Um pouco mais do que nos eventos anteriores da AF, mas pouca gente.

O debate, sobre o Planejamento Estratégico do Banco. Que, embora tenha tido streaming, parece que não foi gravado. O que é uma pena. Não que ele tenha apresentado algo em si novo (até que teve, mas isso fica pra depois), mas o ineditismo de vermos o diretor sob a qual está a AP sentado publicamente com a Associação, discutindo coisas que afetam a atuação do Banco… bem, isso aconteceu com TLP sob Maria Silvia. Mas embora também fosse Ricardo falando pelo Banco, não foi como diretor de planejamento (e nessas horas agradeçamos o fim da fase dos skinheads sobre a Área).

Mas não escrevo aqui uma ata do evento. Tentando me conter nos sete mil toques que o Washington me pede, vou tentar falar do que, em termos gerais, me incomoda nesse processo (de planejamento). Com a eliminação da Espanha e da Alemanha, acho que o mar não está pra floreios e toques excessivos.

Ponto principal: o processo foi feito tendo um interlocutor principal, um cidadão extremamente culto e peculiar que, a acreditar-se na última pesquisa do IBOPE, sequer teria 1% das preferências dos eleitores. Aliás, ele e o ex-ministro Meirelles. Aliás, ele, Meirelles e Rodrigo Maia. Traços. Tocado a toque de caixa pela consultoria antes mesmo de Sebo nas Canelas™, o processo escutou muito poucas pessoas fora do universo imediato do Banco (clientes, economistas, burocratas, nós mesmos).

E desse processo sai uma conclusão TINA (There Is No Alternative), com cenários bom, moderado e ruim. E a partir daí se toma uma dúzia de iniciativas… bem, não vou discutir as conclusões e iniciativas aqui. Fica pra outras ocasiões.

Mas o fato concreto é que não temos cenário bom, moderado ou ruim pela frente. Temos um cenário Ciro. E um cenário Jair. E um cenário Marina. E um cenário Geraldo. E um cenário seja lá quem for que o Judiciário na condição de Rahbar permita concorrer em nome de Lula. E até um cenário Henrique: afinal, o mercado financeiro e seus avançados processos de processamento já anteviram que a Alemanha ganhará a Copa do Mundo de 2018. Cada candidatura dessas – candidaturas de fato que são conhecidas, que basicamente são as mesmas que vêm sendo medidas por institutos de opinião pública desde que Maria Sílvia ainda nos presidia – produz discursos, representa demandas e segmentos da população, apresenta plataformas que provavelmente não estão em papel. Jair, num pequeno fragmento de youtube, dizendo para um grupo de estudantes: “Temos que privatizar muita coisa, extinguir estatais, mas com dados técnicos do BNDES para você não falar besteira” me parece um exemplo de materiais dispersos sobre os quais, com um esforço criativo, poderia se construir caminhos conforme esses diferentes mindsets. Melhor do que ensinarmos a eles nossa muito bem construída conclusão.

Mas é exatamente isto que estaremos fazendo levando nosso planejamento estratégico já consumado para os economistas ligados neste momento (frise-se, neste momento) às candidaturas. Por melhor que seja nosso trabalho, é uma atitude arrogante. E uma atitude possivelmente infrutífera, pois é grande a chance que não sejam essas pessoas que irão tocar a política econômica do governo ou, dentro dela, os aspectos que tocam ao BNDES.

A eleição que se aproxima sugere uma troca de guarda, uma significativa mudança no conjunto de pessoas que estará conduzido o governo. Isto aconteceu de forma significativa entre Sarney e Collor, entre Fernando Henrique e Lula; e, de forma bem mais moderada, entre Dilma e Temer. Se você acredita que as heurísticas do passado carregam alguma informação sobre as do futuro, então constate que muitas das iniciativas visionárias, muito do que é a aplicação de modas administrativas da época sucumbe à mudança de governo. Um exemplo disso foi a Universidade BNDES, criada em 2002 e extinta ao final de 2003. Fashion na época, pouco se propõe hoje universidades corporativas.

Muito das iniciativas de hoje é cópia apressada do que julgo ser má interpretação do sucesso alcançado em outros lugares do planeta, em outras instituições, em outros contextos. E isto está fadado ao esquecimento, a aparecer na primeira página de busca de google como termo em um obscuro relatório do TCU.

Mas há parte do que acontece junto a esse tipo de processo de autoglorificação e de adoção de práticas e palavreados da moda que, por muitas vezes, antecede a ele. A agenda de aceleração dos processos automáticos e de implementação de um modelo digital de operações diretas com funcionalidade semelhante ao das automáticas é um caso desses: um conjunto de ações/intenções que pode ter sido incorporado a esse planejamento, mas tem vida própria anterior.

Ricardo, patrono dessa agenda, por mais que ache que as conclusões do planejamento estratégico são basicamente as mesmas de sempre (sempre, no caso, os quase 26 anos em que ele está cá), afirma que muitas mudanças virão, muita coisa acontecerá nesses seis meses. Se a parte dessa agenda pela qual ele já trabalhava na época dos skinheads vier a frutificar e se mantiver no próximo governo, olé!

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