VÍNCULO 1610 – As Comissões de Raça e Etnia e de Empregados com Deficiência da AFBNDES manifestam, por meio da presente nota, seu grande descontentamento com as declarações da então candidata ao Conselho de Administração do Sistema BNDES, no assento reservado à representação dos empregados, a advogada Valeria Eiras, a respeito da capacidade do BNDES em receber novos empregados que ingressarão por cotas reservadas a candidatos negros e com deficiência.
A preocupação revelada pela então candidata ao Conselho de Administração sugere que os cotistas são menos capazes e necessitariam de uma preparação ou adaptação especial para desenvolver suas atribuições no BNDES. Na entrevista, ocorrida no dia 27/08/2024, a advogada disse:
“Então, eu me sinto até meio constrangida de abordar esse assunto de direitos de empregados, valores empregados, receber os novos empregados. Mas já que você abriu essa brecha, eu me sinto confortável de falar aqui. Nós não estamos preparados ainda para receber essas pessoas. Eu não vejo… assim… as pessoas e nossa estrutura física implementada para tanto. Mas eu tenho certeza absoluta que o RH vai fazer um excelente trabalho, que nós vamos recebê-los bem, que deve ter algum curso de integração, deve haver alguma forma de acolhimento dessas pessoas que entraram pelas cotas, que precisa ter um treinamento, precisa ter um carinho especial por eles… que essa é uma realidade. Várias associações não governamentais, que eu tive acesso, elas fazem um trabalho muito bonito. Uma incubadora, um tratamento especial para conseguir fazer com que todos entrem no quadro funcional daquela empresa no mesmo grau de conhecimento e de preparo que os outros, que os demais. Então, esse carinho, esse cuidado, com certeza a RH está preparada, com certeza vão fazer algo a respeito.”
A postura da candidata sugere preconceito e capacitismo, indo na direção contrária ao objetivo das cotas de buscar uma reparação histórica a grupos que, de forma recorrente, encontram as portas fechadas no mercado formal de trabalho, mesmo tendo, comprovadamente, habilidades e formações compatíveis para os cargos para os quais se candidatam. Destacando-se que o concurso público estabelece o cumprimento de requisitos de qualificação técnica para todos os candidatos.
Celebramos o primeiro concurso do BNDES com cotas raciais e com a ampliação do percentual de vagas destinadas a pessoas com deficiência, vislumbrando um BNDES mais diverso e beneficiado por talentos desperdiçados muitas vezes por diferentes formas de opressão e racismo.
Entendemos que cabe a cada empregada(o) do BNDES investir em letramento racial bem como em uma educação antirracista e anticapacitista, para que todo o corpo funcional esteja preparado para compor políticas voltadas para um desenvolvimento econômico e social com diversidade e inclusão, alinhadas à estratégia corporativa definida pela Alta Administração.
Repudiamos qualquer fala que se mostre discriminatória a grupos historicamente vulnerabilizados. A fala da candidata citada causa relevante preocupação. Especialmente, considerando que pesquisas têm mostrado o desempenho similar, ou superior, dos cotistas [como o artigo do IPEA de Mugnaini Junior, A. N., & Cunha, M. S. S. (2023), sobre as cotas para o ensino superior]. E ainda consultorias como McKinsey e Accenture têm apontado para o aumento do desempenho de instituições que buscam ser mais diversas e inclusivas.
Comissão de Empregados com Deficiência – AFBNDES
Comissão de Raça e Etnia – AFBNDES
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A AFBNDES se coloca à disposição para viabilizar o esclarecimento e o diálogo que se fizerem necessários, zelando pelo entendimento e o aprendizado constantes. Lembramos que está assegurado o pronto Direito de Resposta.